A ciranda da devastação ambiental e da violência contra os indígenas

29 de junho de 2020

O drama Amazônico é continuidade da história de conquista do território brasileiro: em busca do “desenvolvimento econômico”, o governo incentiva a conquista e a destruição da floresta para explorar riquezas naturais, passando por cima de todos – inclusive daqueles que vivem lá há séculos e que defendem a natureza com suas vidas.

Na Folha, Fabiano Maisonnave reconstituiu como a ditadura militar transformou a Amazônia, rasgando milhares de quilômetros de estrada, construindo hidrelétricas e fomentando projetos agropecuários colonizadores, ao custo de milhares de vidas indígenas e da devastação da floresta. A matéria cita um dos episódios mais violentos de repressão aos Povos Indígenas da época: o bombardeio clandestino de aldeias Waimiri-Atroari, durante a construção da BR-174, entre Manaus e Boa Vista. De acordo com a Comissão Nacional da Verdade, helicópteros do Exército lançaram bombas e veneno sobre os indígenas, causando a morte de 2,6 mil pessoas.

Boa parte das sementes da devastação florestal que vemos hoje na Amazônia foi plantada durante a ditadura: nove das 10 áreas da floresta que tiveram maior incidência de desmatamento no ano passado estão na zona de influência de rodovias construídas no período, como a Transamazônica, a PA-279, a BR-364 e a BR-163. Ao invés de progresso econômico, os projetos aprofundaram desigualdades e criaram as bases para a miséria de muitas regiões da Amazônia.

Na ponta mais frágil do drama, os indígenas continuam desamparados e, sob o governo Bolsonaro, enfrentando problemas sucessivos para manter direitos conquistados em lei, como o direito à terra. A pandemia acrescentou mais drama, já que o novo coronavírus vem causando uma tragédia humanitária em diversas etnias brasileiras. Como a Reuters destaca em uma matéria interativa bem interessante, garimpeiros seguem invadindo diversas Terras Indígenas, levando a COVID-19 para comunidades desprovidas de atendimento médico e atenção social do poder público. Na TI Yanomami, por exemplo, lideranças locais alertam sobre a existência casos de contágio autóctones, o que significa que o coronavírus está circulando e pode intensificar o contágio entre 28 mil indígenas.

Os indígenas vivem uma corrida contra o tempo por sobrevivência. O índice de mortalidade nas aldeias tem sido maior que a média dos brasileiros. A falta de apoio do poder público assusta, mas, como bem destaca Thiago Mendonça, no Valor, a história desses Povos é a prova de sua resiliência. “Pedro Casaldáliga, antigo bispo da Prelazia de São Félix do Xingu, dizia que a maior qualidade do povo brasileiro é a teimosia em resistir. A luta tem muitos sentidos, que nem sempre podem ser compreendidos pelos que vivem na cidade. A terra para eles [indígenas] não é só um território – ela estrutura um modo de estar no mundo”, escreve Mendonça.

 

ClimaInfo, 29 de junho de 2020.

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