Mesmo com o aumento do desmatamento e toda a pressão externa e interna para a tomada de medidas efetivas contra a destruição da Amazônia, o Ibama, principal órgão de combate ao desmate, pode perder até 20% de seu orçamento para o ano que vem.
Como destaca André Shalders na BBC Brasil, a situação orçamentária do órgão já é complicada: neste ano, o Ibama sofreu corte de quase 15% em seu orçamento, de R$ 2,05 bilhões em 2019 para R$ 1,75 bilhão em 2020. Para piorar, desde 2010 o quadro de funcionários do Ibama vem perdendo pessoal, que não foi reposto ao longo do tempo.
Ao mesmo tempo, o Ibama sofre com a queda na aplicação de termos de embargo. Como Danielle Brant e Phillippe Watanabe apontam na Folha, de janeiro a junho deste ano, só foram aplicadas 587 sanções pelo órgão, 60% menos que o registrado no mesmo período no ano passado (1.435). O número de autuações de 2019, por sua vez, já representava uma redução de 40% em relação ao 1º semestre de 2018.
“Estamos perto de um apagão ambiental. É uma briga diária com o governo para tentar conter o desmonte da política ambiental [e] os ataques à legislação ambiental”, afirma Elizabeth Eriko Uema, secretária-executiva da Ascema (Associação Nacional dos Servidores do Meio Ambiente).
Neste ritmo, mesmo com algumas desculpas esfarrapadas oferecidas por novos aliados, dificilmente Hamilton Mourão conseguirá aproveitar a chance apontada por Thomas Traumann em seu blog na Veja, a de tornar-se um novo protagonista do governo no diálogo com empresários e investidores: “Mourão (…) não precisa reinventar a roda. É só jogar as laranjas podres no lixo e usar o conhecimento já adquirido e que deu certo”. O problema é como ele o fará…
Em tempo: Vale a leitura da reportagem de Naira Hofmeister no The Intercept Brasil sobre Paulo Cesar Quartiero. O ruralista protagonizou diversas polêmicas nas últimas décadas, defendendo a submissão de ambientalistas, indígenas e quilombolas à lógica da agropecuária – como a própria jornalista aponta, Quartiero antecipou a agenda agressiva e intransigente de Bolsonaro há muitas décadas.
ClimaInfo, 14 de julho de 2020.
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