Técnicos do INPE denunciam “estrutura paralela” de gestão  

INPE paralisia institucional

No meio de mais uma temporada de destruição florestal agressiva na Amazônia, o INPE está fragilizado por um processo de reestruturação que, na visão de seus funcionários, é capaz de criar uma “paralisia institucional”.

Desde a demissão de Ricardo Galvão, em junho de 2019, o INPE segue sob a direção interina do oficial da Aeronáutica Darcton Policarpo Damião. De acordo com o Painel da Folha, o ministério da ciência e tecnologia está conduzindo uma seleção aberta para a escolha da nova direção, mas não se sabe em qual estágio o processo se encontra. Temerosos quanto ao futuro do órgão, um grupo de técnicos encaminhou duas cartas ao comitê responsável pela escolha da nova direção, expressando preocupação quanto a um favorecimento da candidatura de Damião e sobre o caráter centralizador e controlador da nova estrutura que vem sendo implementada.

“Essa estrutura paralela de gestão inclui a verticalização e a unificação de comando aos moldes das estruturas militares, claramente na contramão das tendências atuais de pesquisas em redes colaborativas, com liberdade acadêmica e autonomia científica”, afirma uma das cartas citadas por Ana Carolina Amaral na Folha. A transferência e a centralização de responsabilidades sobre a gestão de informações sobre queimadas do INPE para o ministério da defesa também preocupa, já que isso permitiria a “maquiagem” nos números oficiais.

Ontem (14/7), o ministro Marcos Pontes negou que a exoneração de Lubia Vinhas, da coordenadoria-geral de Observação da Terra do INPE, responsável pelos sistemas de monitoramento, esteja associada à divulgação de novos dados negativos sobre o desmatamento da Amazônia. “Ela não foi demitida, continua no time. Nós ampliamos as funções do INPE, ela vai assumir uma delas. Então, é isso, talvez eu devesse ter olhado com mais cuidado, deixar mais para frente. Eu não prestei a atenção nesse item. Esse mal-entendido com relação à Lubia está esclarecido”, disse Pontes durante coletiva de imprensa.

Perguntado sobre a manifestação dos técnicos do INPE, o diretor interno Damião rejeitou insinuações de que ele esteja sendo beneficiado por uma “estrutura paralela” na escolha da nova direção do órgão.

Em tempo: Candidato frequente à vaga de ministro do meio ambiente na era Bolsonaro, o pesquisador da Embrapa Evaristo de Miranda contestou em suas redes sociais as críticas feitas pelo presidente da Suzano, Walter Schalka, à política ambiental do governo federal em entrevista ao Estadão. Um dos argumentos de Miranda é bastante polêmico: diz que, com base nos dados do INPE, houve uma “redução” nas queimadas no Brasil no 1º semestre de 2020, em comparação com o mesmo período de 2019. Esse ponto também foi destacado pela nota do Ministério da Economia. Mais uma vez, o Fakebook.eco nos ajuda a entender o problema desse argumento: o total de queimadas no Brasil no 1º semestre não diz nada sobre a situação da Amazônia no meio do ano – afinal, a temporada seca começa apenas em junho. Se considerarmos os focos de queimada na região no 1º mês desta temporada seca, o número (2.248) é 20% maior do que no mesmo período no ano passado.

 

ClimaInfo, 15 de julho de 2020.

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