Governo e agronegócio se mobilizam para contestar associação da produção de soja e carne ao desmatamento

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O governo federal e o agronegócio sentiram o baque do estudo liderado por Raoni Rajão, da UFMG, publicado na semana passada na Science, mostrando que parte mais significativa de carne e soja produzidas na Amazônia e no Cerrado e exportadas para a União Europeia está associada ao desmatamento ilegal.

No Valor, Rafael Wallendorff informou que o Ministério da Agricultura vai convocar um grupo de cientistas para “avaliar detalhadamente cada conclusão” do artigo. A pasta reconhece que o estudo traz informações relevantes sobre a atividade rural no país, mas disse que o agronegócio não pode ser vilanizado.

Já entidades do agronegócio também se organizam para responder ao estudo. O Estadão destacou as reações de grupos como a ABIOVE, que diz que a pesquisa associou “de forma equivocada” uma quantidade elevada de soja ao desmatamento, e a APROSOJA BRASIL, que “não concorda com os dados divulgados pelo estudo, pois ele apresenta inconsistências”.

Enquanto o agro quebra a cabeça para se defender, os investidores internacionais seguem preocupados com a situação na Amazônia. O Congresso em Foco informou que a Nordea Asset Management, gestora norueguesa de investimentos que capitaneou as manifestações recentes do setor, criticou uma nota técnica publicada pelo Ministério da Economia na semana passada. O texto afirmava que as informações sobre o avanço do desmatamento na Amazônia são “justamente opostas ao que vem sendo afirmado” pelos investidores. “As taxas de desmatamento estão comprovadamente subindo, e de maneira dramática”, declarou Eric Pedersen, chefe de investimentos da Nordea. “Queremos deixar claro que o que vai determinar o perfil de risco do Brasil são os dados (…) além da sinceridade dos esforços de combate e do compartilhamento das informações com os investidores”.

Em tempo: A pressão externa relacionada ao desmatamento está forçando algumas empresas brasileiras a reforçar suas estratégias e iniciativas ambientais, com o objetivo de se distanciar da toxicidade da imagem brasileira no exterior. A BRF está construindo uma campanha publicitária internacional para anunciar que seus produtos não estão relacionados à destruição florestal na Amazônia. Já o Grupo Pão de Açúcar, controlado pela companhia francesa Casino, reafirmou que luta contra o desmatamento “há muitos anos” e que conta com “uma política consistente e rigorosa para controle da origem da carne bovina entregue por seus fornecedores”.

 

ClimaInfo, 20 de julho de 2020.

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