Países ricos prometem descarbonizar suas economias, mas investem em fósseis na África

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Países como Reino Unido, Holanda, Japão e Itália, que afirmam ter interesse em uma recuperação econômica mais verde após a pandemia, estão entre os principais investidores em um megaprojeto de exploração de gás natural em Moçambique. De acordo com Megan Darby, no Climate Home, esses países investiram quase US$ 15 bilhões em recursos públicos nesse projeto, o maior no continente africano.

Liderado pela francesa Total, o projeto prevê a construção de dois campos de gás na província de Cabo Delgado, além de uma planta com capacidade para liquefazer 13,1 milhões de toneladas por ano para exportação.

No Reino Unido, ativistas climáticos estão se organizando para processar o governo britânico por sua participação no projeto de gás de Moçambique. “Como anfitrião da próxima COP, o Reino Unido deveria se concentrar em ações ambiciosas que resultem no corte de emissões dentro e fora de suas fronteiras, e não no financiamento de projetos que contribuirão para a mudança do clima em um país que já sofre com os efeitos dela”, disse Tony Bosworth, da Friends of the Earth, ouvido pelo jornal The Guardian.

O projeto também contou com apoio do Banco Mundial, que forneceu cerca de US$ 87 milhões em assistência técnica. Na prática, esse recurso financiou consultores para aconselhar o governo do país em questões regulatórias e tributárias e na facilitação de grandes acordos financeiros para viabilizar a iniciativa. “O Banco Mundial afirma que, para avançar na transição energética de combustíveis fósseis para energias renováveis, precisamos obter incentivos econômicos corretos”, apontou Heike Mainhardt, consultora sênior da Urgewald, em artigo no Climate Home. “No caso de assistência técnica e empréstimos para políticas de desenvolvimento, parece que o Banco Mundial continua dando os incentivos errados”.

Em tempo: O governo da Arábia Saudita, que será o anfitrião da cúpula do G20 deste ano, está trabalhando para remover o termo “subsídios a combustíveis fósseis” dos briefings políticos que devem apoiar as conversas ministeriais e de alto nível. Ao invés de “subsídios”, os sauditas defendem que se use o termo “incentivos”, que não foi utilizado até hoje nas conversas oficiais do grupo e que, por essa razão, poderia ter seu significado mais maleável para Riad.

 

ClimaInfo, 24 de julho de 2020.

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