O “apagão ambiental” no Itamaraty de Ernesto Araújo

11 de agosto de 2020

Em meio à crise diplomática e comercial causada pelas críticas de investidores e empresários internacionais ao desmatamento da Amazônia, o Itamaraty tem sido inútil. Desde o começo da gestão de Ernesto Araújo, a pasta diminuiu a relevância política de questões ambientais em seu organograma, extinguiu estruturas dedicadas ao tema e reduziu a equipe de diplomatas envolvidos com a temática.

No Estadão, Felipe Frazão critica a postura de Araújo, que colocou o enfrentamento do “ambientalismo ideológico” como um objetivo da política externa brasileira sob Jair Bolsonaro. O resultado tem sido o abandono da liderança que o Brasil exercia em temas ambientais e a perda de capacidade na chefia das delegações oficiais do país em negociações ambientais, com a substituição de diplomatas mais experientes por neófitos sem conhecimento do assunto.

Ouvido pelo jornal, o embaixador Everton Vieira Vargas, quem teve papel fundamental no reposicionamento diplomático do Brasil em temas ambientais a partir da Rio-92, lamenta a situação. Para ele, perder investimentos internacionais “por não ter estratégia para coibir o desmatamento, coisa que a gente também sabe fazer, é vergonhoso”.

No Financial Times, o professor Oliver Stuenkel (FGV) afirma a necessidade de pressão internacional redobrada para que haja alguma mudança na situação ambiental brasileira. Ele recomenda que o apoio à candidatura brasileira à OCDE e a ratificação do acordo Mercosul-UE sejam condicionados ao restabelecimento das regulações ambientais e à revitalização dos órgãos responsáveis pela fiscalização do desmatamento. Para Stuenkel, essa pressão precisa ser direcionada à ala liberal do governo Bolsonaro, encabeçada pelo ministro Paulo Guedes. “As elites empresariais podem ter perdido parte de sua influência inicial em Brasília. No entanto, mesmo Bolsonaro entende o valor do investimento estrangeiro e de um acordo comercial que estima adicionar US$ 90 bilhões nos próximos 15 anos a uma economia brasileira enfraquecida”, escreve Stuenkel.

Em tempo: No 1º ano de gestão de Ricardo Salles no meio ambiente, a pasta deixou oito em cada dez pedidos de informação por parte da imprensa sem qualquer tipo de resposta. No entanto, questionado formalmente via a Lei de Acesso à Informação, o ministério mentiu ao dizer que não tinha dados que permitissem comparar o desempenho da pasta no atendimento de demandas da imprensa em 2019 com anos anteriores. Para o Observatório do Clima (OC), que levantou essa questão, o balanço de atendimentos em 2019 “reflete a estratégia de comunicação imposta pelo ministro à pasta e às autarquias vinculadas, em especial o Ibama e o ICMBio”, com a centralização da comunicação nas mãos do próprio Salles. O OC destacou também a “mordaça” que servidores da pasta sofrem por parte da equipe de Salles, com perseguição e afastamentos.

 

ClimaInfo, 11 de agosto de 2020.

Se você gostou dessa nota, clique aqui para receber em seu e-mail o boletim diário completo do ClimaInfo.

x (x)

Continue lendo

Assine nossa newsletter

Fique por dentro dos muitos assuntos relacionados às mudanças climáticas

Em foco

Aprenda mais sobre

Glossário

Este Glossário Climático foi elaborado para “traduzir” os principais jargões, siglas e termos científicos envolvendo a ciência climática e as questões correlacionadas com as mudanças do clima. O PDF está disponível para download aqui,
1 Aulas — 1h Total
Iniciar