A crise climática e a armadilha do eterno crescimento econômico

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“Menos é mais”. Esse é o lema de um grupo de economistas, ecologistas e antropólogos que se formou para debater uma proposta radical para conter a crise climática: as nações ricas precisariam decrescer.

O “decrescimento” não é uma ideia nova. Nos anos 1970, o romeno Nicholas Georgescu-Roegen já falava disso, apontando para a impossibilidade física do crescimento econômico eterno e sem limites, como advogado por economistas liberais neoclássicos. Nos últimos tempos, a reflexão vem sendo retomada por alguns cientistas e pensadores à luz da crise climática.

A Bloomberg publicou uma entrevista com o antropólogo econômico Jason Hickel, da Goldsmith University (Reino Unido), quem desdobra alguns pontos da proposta. Para ele, o mundo precisa reconsiderar o valor do produto interno bruto como métrica para o progresso humano, já que o crescimento do PIB não implica necessariamente em melhoria do bem-estar social e da redução da desigualdade. Além disso, a crise climática implica lidar com certos limites ambientais, que vêm sendo superados constantemente nos últimos anos, especialmente pelos países mais ricos. Por fim, se quisermos mesmo conter o aquecimento do planeta, não dá para esperarmos por uma tecnologia de captura de carbono da atmosfera que ainda está muito distante de ser desenvolvida.

“Quando as pessoas veem essa ideia pela 1ª vez, pensam que isso é sinônimo de recessão. Na verdade, o decrescimento é o oposto da recessão em alguns aspectos importantes. Uma recessão é o que acontece quando uma economia orientada para o crescimento deixa de crescer”, argumentou Hickel. “Mas o decrescimento propõe uma economia que não requer crescimento em 1º lugar, que pode gerar altos níveis de progresso humano sem crescimento. Em uma recessão, você vê o aumento da desigualdade e do desemprego. No decrescimento, você tem uma redução da desigualdade. Você tem pleno emprego, o que consegue com uma semana de trabalho mais curta e garantia de emprego”.

 

ClimaInfo, 19 de agosto de 2020.

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