Sem evidências, chefe da Embrapa associa queimadas no Pantanal à retirada do gado

1 de setembro de 2020

O Fakebook.eco destrinchou a “nova” argumentação oferecida pelo chefe da Embrapa Territorial (e “guru ambiental” de Bolsonaro), Evaristo de Miranda, para justificar as terríveis queimadas que assolam o Pantanal. Em entrevista à Rádio Bandeirantes, Miranda afirmou que a retirada do gado de grandes áreas do bioma para a criação de reservas de proteção ambiental foi um fator que contribuiu para a proliferação dos focos de incêndio neste ano.

“O boi está lá há quatro séculos. Então (…) existe um equilíbrio lá entre o boi, a vegetação, o uso da terra (…) O que acontece nesses lugares, tirando o gado e cercando? O capim cresce muito e acumula muita massa vegetal. Na hora em que pega fogo, é um fogo muito intenso”, argumentou Miranda. O argumento de Miranda foi praticamente copiado de uma falácia de Trump, quem em 2018 culpou ambientalistas pelos incêndios das florestas da Califórnia porque estes não permitiam o uso de “fogo preventivo”, o que acumularia muito material combustível e levaria aos terríveis incêndios dos últimos anos.

Mas, como o Fakebook aponta, os dados relativos aos últimos 20 anos não sustentam a correlação entre quantidade maior de bois e número menor de focos de fogo no Pantanal. Dados sobre o rebanho de 22 municípios pantaneiros nos estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul apontam que, entre 2003 e 2018, o rebanho se manteve praticamente estável – enquanto os focos de calor variaram bastante no mesmo período.

Tasso Azevedo, coordenador do MapBiomas, explicou que a ocorrência de incêndios no Pantanal está associada à sua antropização, especialmente por meio do avanço da pecuária, que usa o fogo para limpeza de pastagem. O boi até maneja o capim, mas a ausência dele não explica o crescimento das queimadas, até porque nem todo o Pantanal tem gado e, mesmo assim, pega fogo.

Em tempo: “É desesperador ver e não poder fazer nada, ver tudo queimar é muito triste”, lamentou o fotógrafo Ernane Junior, que registra a vida selvagem no Pantanal há mais de 10 anos. As cenas descritas – e, em muitos casos, fotografadas – por ele são um retrato da devastação que o Pantanal vive nos últimos meses. “Foi a coisa mais triste que eu já vi na minha vida. Eu nunca pensei que ia fazer fotos disso”. O G1 ouviu Ernane e publicou algumas imagens.

 

ClimaInfo, 1º de setembro 2020.

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