MOBILIDADE: Muitos empregos podem ser gerados com ciclovias, faixas de ônibus e calçadas recuperadas

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Soluções em mobilidade urbana para combater a pandemia ajudam na recuperação econômica no curto prazo, reduz a poluição e melhora a saúde.

O Instituto ClimaInfo, com o apoio do Observatório do Clima e  GT Infraestrutura, divulga estudo “Retomada Verde Inclusiva'” com soluções de curto prazo em investimentos verdes para a recuperação da economia. Especialistas também participaram de debate promovido pelo ClimaInfo  sobre as ações necessárias para buscar uma mudança positiva após crise.

 

O impacto do transporte motorizado, coletivo ou individual, sobre o clima já era conhecido. Movidos a combustíveis fósseis, eles respondem por quase um quarto das emissões brasileiras do setor de energia, em uma curva ascendente, iniciada em 2009, e turbinada, entre outros fatores, pelo forte aumento da quilometragem total rodada por automóveis e motocicletas. Os efeitos deletérios sobre a economia tampouco são novidade: um estudo de 2018 estimou em centenas de bilhões de reais o custo do tempo perdido no trânsito todo ano.

Também é conhecido o impacto sobre a saúde. No Brasil, 50 mil pessoas morrem no trânsito por ano e cerca de 15% das internações por causadas externas em hospitais públicos são vítimas de acidentes de trânsito. O custo econômico gerado pela mortalidade e a morbidade causada pelo trânsito e pela poluição do ar em cidades brasileiras ultrapassa a casa de um bilhão de reais por ano. Os problemas de saúde reverberam na economia, por causa de mortes prematuras e faltas no trabalho por sequelas de acidentes e doenças relacionadas à concentração de poluentes no ar.

Em tempos de pandemia, não só a poluição é um dos fatores que aumenta a letalidade da COVID-19, como o modelo do transporte coletivo de passageiros provou-se um dos mais graves vetores de contaminação.

Investir na construção de ciclovias, criação de faixas exclusivas de ônibus e recuperação de calçadas endereça todos esses pontos e ainda gera empregos, contribuindo com a recuperação econômica no curto prazo.

Um estudo americano estima que a construção de ciclovias gera 11 empregos por milhão de dólares ou aproximadamente 2.000 empregos por bilhão de reais. Com esse investimento (R$ 1 bilhão) é possível construir 5.000 km de ciclovias, ou criar 2.000 km de faixas exclusivas de ônibus, ou recuperar e construir 1.750 km de calçadas.

Faixas exclusivas de ônibus reduzem o tempo de deslocamento em torno de 15% sem a necessidade de mudanças na infraestrutura das cidades. Calçadas de qualidade fazem diferença nos deslocamentos de pedestres. E ciclovias melhoram a saúde dos usuários e reduzem congestionamentos. A conta dos benefícios inclui ainda os custos evitados com saúde por conta da redução de acidentes e de doenças pulmonares provocadas pela poluição.

A mudança real é essencialmente comportamental e no modo de encarar o espaço urbano. Os atores que podem colocar estas engrenagens em movimento são basicamente as prefeituras e coordenações de regiões metropolitanas. Nesse contexto, um passo fundamental é aumentar a transparência e a accountability nas tomadas de decisão que afetam a mobilidade urbana.

E ela já está acontecendo em vários grandes centros urbanos em todo o mundo. Desde o primeiro dia de quarentena, o governo de Bogotá, na Colômbia, instalou ciclovias temporárias como forma de evitar aglomeração no transporte público. Hoje, totalizam 80 km de ciclovias temporárias. Na França, o governo promove incentivos para que a população troque o transporte público por bicicletas após o período de isolamento. O governo francês criou um fundo de 20 milhões de euros (R$ 116 milhões) para incentivar a população a usar bicicletas como transporte. A iniciativa é do Ministério da Transição Ecológica Solidária da França e a ajuda é o equivalente a 50 euros por pessoa para financiar reparos nas bicicletas — o que também estimulava pequenos negócios devido ao aumento da demanda nas bicicletarias. Um levantamento da Organização Panamericana de Saúde (OPAS) da OMS identificou mais de 100 intervenções similares em todo o mundo, como a criação de ciclofaixas provisórias, além da restrição de circulação e redução da velocidade do tráfego.

Soluções também começam a aparecer no Brasil. Em Fortaleza, o Plano Mestre Urbanístico, o Plano de Mobilidade e o Plano de Desenvolvimento Econômico e Social trazem soluções em mobilidade urbana por meio da execução de um conjunto de 32 planos específicos. O Instituto de Planejamento de Fortaleza (Iplanfor), responsável pela gestão do Plano Fortaleza 2040, realiza a articulação com as Câmaras Setoriais, os Fóruns Territoriais e com o incubador do Observatório de Fortaleza.

Em 2017, 11 cidades brasileiras desenvolveram projetos-piloto de “Ruas Completas”, dentro do programa de cidades do WRI Brasil, e deram início às discussões sobre os desafios e as soluções para se adotar o conceito no contexto brasileiro. Atualmente, 20 cidades integram a rede. O conceito de Ruas Completas propõe integrar o planejamento do uso do solo com o da mobilidade, com a construção e a operação de redes de transporte mais eficientes e seguras.

 

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ClimaInfo, 3 de setembro 2020.

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