O que o clima seco no Pantanal e no sul da Amazônia tem a ver com a crise climática?

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O Programa Queimadas (INPE) mostra que de 1º de janeiro até o último dia 12, foram registrados 14.489 focos de incêndio no Pantanal, um aumento de 210% em relação ao mesmo período de 2019 (4.660). Segundo relata o Correio Braziliense, 2020 já acumula a maior destruição por queimadas, com 125.031 focos em todo o país, o maior registro para o período desde 2010.

Por conta disso, o governo do MS decretou situação de emergência. Até agora 1,4 milhão de hectares foram destruídos em 79 municípios. Campo Grande vive nos últimos dias sob uma densa nuvem de fumaça das queimadas. No Mato Grosso, as chamas atravessaram a fronteira com a Bolívia. Fabiano Maisonnave e Lalo de Almeida relatam na Folha o drama do Parque Estadual Encontro das Águas, reserva com uma das maiores densidades de onças do mundo. Até o sábado, 67 mil dos 108 mil hectares do Parque tinham queimado, ameaçando a sobrevivência das onças-pintadas. No Estadão, Vinícius Valfré e Dida Sampaio mostram a paisagem tomada por cadáveres de animais torrados ao longo da Rodovia Transpantaneira e as dificuldades enfrentadas pelos agricultores que vivem na região, com o fogo consumindo suas terras e ameaçando seus rebanhos.

O cientista da NASA, Doug Morton, disse a Jake Spring (Reuters) que a seca que assola o Pantanal é causada por mudanças na temperatura do oceano conhecidas como a Oscilação Multidecadal do Atlântico – o equivalente no Atlântico ao El Niño do Pacífico. Mas, ao contrário do El Niño, que acontece tipicamente a cada 2-7 anos, a oscilação alterna temperaturas superficiais mais quentes ou mais frias no Atlântico aproximadamente a cada 30-40 anos. Quando está quente, como tem estado desde os anos 90, o aquecimento no Atlântico Norte tropical é mais provável, contribuindo para secas e incêndios sul-americanos.

A mudança da temperatura dos oceanos é “um provável condutor das condições secas que vimos até agora este ano no Pantanal”, segundo Morton, que lidera o laboratório de ciências biosféricas da NASA.

Morton disse que o ponto quente também pode estar contribuindo para uma maior secura na parte sul da Amazônia, onde os incêndios atingiram um pico de 10 anos em agosto; e nas zonas úmidas da Argentina, onde os incêndios são os piores desde 2009.

Mais preocupante ainda, Morton está preocupado quanto ao aquecimento global perturbar a Oscilação e deixá-la permanentemente na fase quente, contribuindo para mais incêndios. Mesmo que isso não aconteça, os cientistas temem que o aumento da temperatura global, por si só, torne as grandes queimadas cada vez mais comuns.

Em tempo: A Funai teve que retirar às pressas um grupo de 45 indígenas na reserva Tereza Cristina, localizada em Santo Antônio do Leverger (MT), por conta do avanço dos incêndios florestais. De acordo com o órgão, os indígenas pertencem ao povo Boe Bororo e foram levados para a Casa da Saúde Indígena e para residência de parentes em Rondonópolis.

 

ClimaInfo, 15 de setembro 2020.

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