Salles: lorotas no Congresso e movimentação de processos na Justiça

Salles
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Falácias para dar e vender. Esta é a síntese das falas do ministro do meio ambiente de Bolsonaro em audiência pública da comissão externa do Senado sobre o Pantanal realizada ontem (13/10) – mesmo dia em que o desembargador Ney Bello, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1), determinou que a Justiça Federal do DF analise imediatamente o pedido feito pelo Ministério Público Federal (MPF) para afastar Salles do governo. O magistrado também incluiu o processo na pauta de julgamento do dia 27 de outubro. Já o Tribunal de Justiça de SP marcou para esta 5ª feira (15/10), às 9h30, o julgamento de Salles na 2ª instância sobre a acusação de improbidade administrativa durante sua gestão como secretário do meio ambiente no governo Alckmin.

Enquanto a Justiça se movimentava, Salles abusava das lorotas no Congresso. Entre outras, repetiu a lenda do “boi bombeiro”, que não tem sustentação técnico-científica; incluiu a intensificação da pecuária no Pantanal em um “combo” de medidas antifogo que incluiria também o uso do “fogo frio” (queima controlada de matéria orgânica), ainda que também não exista sustentação quanto à eficácia destas práticas; e defendeu o uso de retardantes químicos no combate aos incêndios. Sobre este último item, o Estadão revelou que Salles quer comprar, sem licitação e com urgência, 20 mil litros do produto ao custo de R$ 684 mil para lançar sobre o Pantanal. Como falado quando do despejo de mil litros doados por um fabricante sobre uma queimada já extinta na Chapada dos Veadeiros, a substância leva algumas semanas para se degradar e, por isso, o Ibama recomenda a suspensão do consumo de água, pesca, caça e frutas e vegetais expostas a ela por pelo menos 40 dias.

Salles também fugiu da responsabilidade sobre a situação do Pantanal, alegando que apenas 6% da área do bioma estariam sob sua responsabilidade, o restante cabendo aos governos do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. A afirmação omite uma das principais funções do ministério do meio ambiente: gerenciar as ações do Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama), que existe desde 1990 exatamente para articular os esforços dos diferentes entes da Federação para proteção, melhoria e recuperação do meio ambiente, como bem lembrou André Borges no Estadão. A afirmação de Salles foi criticada duramente por especialistas.

Salles também alegou que as coisas lá fora são piores, usando os incêndios da Califórnia como exemplo em uma afirmação falsa e prontamente esclarecida pelo Fakebook.eco. Enquanto isso, a incineração do Pantanal foi destaque no The New York Times, que trouxe relatos de moradores da região, brigadistas da linha de frente contra o fogo e especialistas.
O ministro também deixou claro seu lado “antiambiental” ao criticar o “exagero” das medidas de proteção do meio ambiente que imporiam “proibição de tudo a qualquer momento”.

As falácias de Salles repercutiram amplamente na imprensa, com destaques em Congresso em Foco, Folha, G1, O Antagonista, O Globo, Reuters, UOL e Valor, entre outros. Vale também ler a coluna de Cristina Serra na Folha.

Em tempo 1: Mourão, que não é bobo, disse não ter interesse em incluir o Pantanal dentro do escopo de ação do Conselho da Amazônia. Para O Globo, o vice defendeu que o bioma siga sob responsabilidade do ministério do meio ambiente.

 

ClimaInfo, 14 de outubro 2020.

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