Ambiente promete ser “pedra no sapato” das relações Brasil-EUA

Brasil-EUA meio ambiente

O chilique bélico de Bolsonaro contra os EUA caso aquele país interferisse na soberania brasileira na Amazônia, esconde uma grande incerteza dentro e fora do governo federal sobre o futuro do relacionamento entre os dois países com a eleição de Joe Biden para a presidência dos EUA.

Na Vox, Jariel Arvin diz que o Brasil desponta como um alvo proeminente da diplomacia climática esboçada pelo presidente-eleito: em seu plano climático apresentado durante a campanha, Biden afirmou que seu governo adotaria uma abordagem naming-and-shaming contra os “fora-da-lei globais do clima”, a fim de responsabilizar os países que estivessem descumprindo suas metas nacionais para o Acordo de Paris.

Caso Bolsonaro não mude sua política ambiental e climática, é muito provável que a nova Casa Branca se junte à Europa na pressão sobre o Brasil, inclusive na seara econômica e comercial. A dúvida maior está exatamente nesse ponto: Bolsonaro irá rever sua política ambiental? Para Natalie Unterstell, esse será o único caminho para o governo evitar a fuga de investidores e a perda de oportunidades comerciais importantes nos próximos anos. “O Brasil precisa de máximo pragmatismo e menos conspirações de ficção ideológica diante do governo Biden”, comentou à Folha.

Bolsonaro, por sua vez, segue em estado de negação. Em evento sobre comércio exterior de ontem (12/11), o presidente disse que sua gestão quer promover comércio “sem viés ideológico” – um termo comum do vocabulário presidencial que, a grosso modo, quer dizer “com países alinhados à visão de mundo” dele. Ao mesmo público, Mourão defendeu que o Brasil seja “compensado” por outros países para a proteção da Amazônia. Curiosamente, essa é uma das propostas defendidas por Biden durante a campanha, que foi prontamente rejeitada por Bolsonaro.

Em tempo 1: Mourão prepara uma estratégia de guerra para a próxima Conferência do Clima (COP26), prevista para novembro de 2026 em Glasgow (Escócia). Segundo Daniela Chiaretti no Valor, o vice quer alinhar a atuação do governo federal nas negociações para que o país tenha “um desempenho coerente com a potência ambiental que o Brasil é”. O que isso significa? A ver.

Em tempo 2: Jamil Chade conta que a pressão sobre o país tende a aumentar com o novo governo dos EUA. Ele trouxe a palavra de Gina McCarthy, ex-presidente da Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA) e integrante da equipe da campanha de Biden para temas climáticos: “A eleição deve mandar uma mensagem clara para Trump, e espero que para outros líderes, de que a saúde pública é importante e que o clima é o desafio mais significativo de nossa era.” Ela acrescentou que as eleições mostram que há “um reconhecimento claro de que precisamos prestar atenção na ciência e trabalhar juntos como um mundo. Reconhecemos que o mundo pode entrar em colapso”.

 

ClimaInfo, 13 de novembro 2020.

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