Exclusão de Cúpula da ONU consolida isolamento internacional do Brasil

Exclusão de Cúpula da ONU

Não teve jeito: mesmo depois de dias de mobilização do Itamaraty nos bastidores da ONU, o Brasil acabou mesmo fora da celebração virtual dos cinco anos do Acordo de Paris. O motivo é simples, segundo informou Jamil Chade no UOL: a nova Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) divulgada por Salles na semana passada não apresentou “mais ambição”. A exclusão do país da Cúpula de Ambição Climática 2020 marca o pior momento da política externa brasileira nos últimos anos. Como Chade destacou, a ausência aprofunda o status de “pária internacional” do Brasil de Bolsonaro, “justamente no tema que vai dominar a política mundial nas próximas décadas”.

Para Martin Bernard, da RFI, o Brasil está em uma “posição delicada” depois de apresentar uma NDC distorcida que, na prática, permitiria ao país emitir ainda mais carbono ao invés de reduzir suas emissões. Isso somado ao crescimento acelerado do desmatamento da Amazônia e aos constrangimentos internacionais causados pela política ambiental, mostra que a percepção internacional do país piorou consideravelmente nos últimos anos.

“Hoje a gente vê um Brasil que perdeu totalmente sua liderança internacional, que vai a qualquer reunião com o chapéu na mão para pegar dinheiro – que não virá”, lamentou Thelma Krug, vice-presidente do Painel Intergovernamental da ONU sobre Mudança do Clima (IPCC), a Nádia Pontes na Deutsche Welle. “Nós estamos totalmente na contramão da história”.

“Sem transparência e sem a participação da ciência e dos especialistas brasileiros no tema, a atualização de nossa NDC tem cara e cheiro de improviso. E com ambição climática não se improvisa”, escreveram a ex-ministra Izabella Teixeira e o ex-diretor do INPE Gilberto Câmara n’O Globo. Em entrevista à RFI, Teixeira ressaltou a demanda contraditória do Brasil por recursos. “[O governo] exige o pagamento de recursos que são condicionados à queda do desmatamento, mas [este] só tem aumentado”.

Em O Globo, Raphaela Ramos e Renato Grandelle contrastam a ação da diplomacia brasileira há cinco anos em Paris, quando o país foi decisivo para finalizar as negociações em torno do Acordo, com a de agora, com o governo Bolsonaro excluído das celebrações de aniversário do texto. No Estadão, Giovana Girardi também repercutiu o isolamento brasileiro.

Em tempo: O diagnóstico do Climate Action Tracker sobre os novos compromissos climáticos do Brasil é certeiro: ao invés de aumentar a ambição, o Brasil aproveitou a atualização de seu inventário feita na 3ª comunicação nacional à UNFCCC para enfraquecer suas metas de redução de emissões, permitindo assim que o país siga aumentando-as ao longo da próxima década. Até então classificada como “insuficiente”, a nova NDC brasileira caiu na escala de ambição para a categoria “altamente insuficiente”.

 

ClimaInfo, 14 de dezembro 2020.

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