UE se esforça para salvar acordo comercial com Mercosul, enquanto Bolsonaro dá sinais ambíguos 

15 de dezembro de 2020

Alguns países da União Europeia estão se desdobrando para conseguir emplacar o polêmico acordo comercial com o Mercosul, torpedeado nos últimos meses por conta da escalada do desmatamento e das queimadas no Brasil. No Valor, Assis Moreira informa o que a UE espera das negociações com o Mercosul, que serão retomadas em janeiro, para responder a críticas ao acordo: 1. chegar a uma “declaração conjunta” a ser anexada ao tratado birregional, definindo planos do Mercosul e da UE para cumprir os compromissos ambientais e sociais; e 2. intensificar “nosso trabalho em prol da Amazônia e também mostrar o que já estamos fazendo”. A UE acena com ajuda e dinheiro aos países do Mercosul para combater o desmatamento: “Para o período 2021-2027 estamos propondo uma iniciativa da Amazônia que atenderia esse propósito”.

Interessante notar que o aceno dos europeus, ainda segundo o Valor, “permitiria monitorar a situação da floresta e seria condicionado à oferta de recursos para financiar a conservação amazônica.” Aqui talvez caiba a antológica pergunta de Garrincha: será que os europeus “combinaram com os russos”, no caso, com o governo Bolsonaro? Este, nos parece, reagirá contrariamente ao novo monitoramento alegando ser soberano sobre a região.

Curiosamente, Bolsonaro, em tese um dos maiores interessados no sucesso do acordo, parece não estar preocupado com o assunto. Tanto que, segundo a Reuters, recebeu no Palácio do Planalto o deputado francês de extrema-direita Nicolas Dupont-Aignan, um dos opositores mais estridentes ao acordo comercial Mercosul-UE. O parlamentar confirmou o encontro, que não constou na agenda oficial da Presidência e que contou também com a participação do chanceler Ernesto Araújo e do deputado Eduardo Bolsonaro. Na pauta, segundo a assessoria do zero-três, trataram de “conservadorismo, meio ambiente e livre comércio”. Não está claro de que maneira esses temas foram tratados, o que reforça a ambiguidade com a qual Bolsonaro vem lidando com a questão do acordo com a UE – ora celebrando o feito, ora minimizando sua importância (para desespero do agronegócio e de Paulo Guedes).

Em tempo: Por falar em agro, a reação de parte do setor à nova Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) do Brasil para o Acordo de Paris não foi boa. A Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, que reúne representantes do agronegócio, ambientalistas, setor financeiro e Academia, afirmou que o processo de formulação da proposta não foi feito em diálogo com outros atores, de maneira que “a tradição de diálogo e escuta com a sociedade não foi respeitada”. De acordo com o grupo, essa postura “põe em risco” os esforços globais contra a crise climática e a falta de clareza sobre as condições da NDC brasileira “pode dificultar o país na atração de investidores”. O Estadão deu mais detalhes.

 

ClimaInfo, 15 de dezembro 2020.

Se você gostou dessa nota, clique aqui para receber em seu e-mail o boletim diário completo do ClimaInfo.

x (x)

Continue lendo

Assine nossa newsletter

Fique por dentro dos muitos assuntos relacionados às mudanças climáticas

Em foco

Aprenda mais sobre

Glossário

Este Glossário Climático foi elaborado para “traduzir” os principais jargões, siglas e termos científicos envolvendo a ciência climática e as questões correlacionadas com as mudanças do clima. O PDF está disponível para download aqui,
1 Aulas — 1h Total
Iniciar