UE se esforça para salvar acordo comercial com Mercosul, enquanto Bolsonaro dá sinais ambíguos 

acordo comercial Mercosul UE

Alguns países da União Europeia estão se desdobrando para conseguir emplacar o polêmico acordo comercial com o Mercosul, torpedeado nos últimos meses por conta da escalada do desmatamento e das queimadas no Brasil. No Valor, Assis Moreira informa o que a UE espera das negociações com o Mercosul, que serão retomadas em janeiro, para responder a críticas ao acordo: 1. chegar a uma “declaração conjunta” a ser anexada ao tratado birregional, definindo planos do Mercosul e da UE para cumprir os compromissos ambientais e sociais; e 2. intensificar “nosso trabalho em prol da Amazônia e também mostrar o que já estamos fazendo”. A UE acena com ajuda e dinheiro aos países do Mercosul para combater o desmatamento: “Para o período 2021-2027 estamos propondo uma iniciativa da Amazônia que atenderia esse propósito”.

Interessante notar que o aceno dos europeus, ainda segundo o Valor, “permitiria monitorar a situação da floresta e seria condicionado à oferta de recursos para financiar a conservação amazônica.” Aqui talvez caiba a antológica pergunta de Garrincha: será que os europeus “combinaram com os russos”, no caso, com o governo Bolsonaro? Este, nos parece, reagirá contrariamente ao novo monitoramento alegando ser soberano sobre a região.

Curiosamente, Bolsonaro, em tese um dos maiores interessados no sucesso do acordo, parece não estar preocupado com o assunto. Tanto que, segundo a Reuters, recebeu no Palácio do Planalto o deputado francês de extrema-direita Nicolas Dupont-Aignan, um dos opositores mais estridentes ao acordo comercial Mercosul-UE. O parlamentar confirmou o encontro, que não constou na agenda oficial da Presidência e que contou também com a participação do chanceler Ernesto Araújo e do deputado Eduardo Bolsonaro. Na pauta, segundo a assessoria do zero-três, trataram de “conservadorismo, meio ambiente e livre comércio”. Não está claro de que maneira esses temas foram tratados, o que reforça a ambiguidade com a qual Bolsonaro vem lidando com a questão do acordo com a UE – ora celebrando o feito, ora minimizando sua importância (para desespero do agronegócio e de Paulo Guedes).

Em tempo: Por falar em agro, a reação de parte do setor à nova Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) do Brasil para o Acordo de Paris não foi boa. A Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, que reúne representantes do agronegócio, ambientalistas, setor financeiro e Academia, afirmou que o processo de formulação da proposta não foi feito em diálogo com outros atores, de maneira que “a tradição de diálogo e escuta com a sociedade não foi respeitada”. De acordo com o grupo, essa postura “põe em risco” os esforços globais contra a crise climática e a falta de clareza sobre as condições da NDC brasileira “pode dificultar o país na atração de investidores”. O Estadão deu mais detalhes.

 

ClimaInfo, 15 de dezembro 2020.

Se você gostou dessa nota, clique aqui para receber em seu e-mail o boletim diário completo do ClimaInfo.

x (x)