O ministério da infraestrutura anunciou hoje (16/12) a pavimentação de um trecho de 52 km da BR-319 (Manaus-Porto Velho). O ministro Tarcisio Freitas foi ao Twitter dizer que a obra é “fundamental para o transporte de pessoas e a integração social dos estados do Amazonas e Rondônia”. Mas, também no Twitter, o professor Raoni Rajão, da UFMG, publicou uma imagem de satélite mostrando claramente que os assentamentos humanos na região ficam ao longo dos rios e estão “completamente abandonados pelo Estado”. No tuíte, Rajão pergunta: “Que tal ajudar essa população ao invés dos grileiros?”
Longe de ser retórica, a pergunta tem base no conhecimento acumulado sobre o desmatamento impulsionado pela construção e pavimentação de rodovias na Amazônia.
O Min dos Transportes fala que a BR-319 vai prestar um “serviço social”. Só que grande parte da população rural vive no entorno dos rios naquela região, completamente abandonadas pelo Estado (pontos brancos do Censo 17). Que tal ajudar essa população ao invés dos grileiros? https://t.co/rKr2s2ZTup pic.twitter.com/gYP1dyAgQ7
— Prof. Raoni Rajão 🇧🇷 (@RajaoPhD) December 16, 2020
Em uma nota técnica divulgada em novembro, “os pesquisadores da UFMG Britaldo Soares Filho, Juliana Leroy Davis e Raoni Rajão projetam que a pavimentação da via aumentará em quatro vezes o desmatamento na Amazônia no decorrer das próximas três décadas, impedindo, assim, que o Brasil alcance as metas de redução de emissões de carbono com as quais se comprometeu no Acordo de Paris”, segundo reportou à época o site da UFMG.
A matéria destaca este trecho da nota técnica: “40 unidades de conservação, 6 milhões de hectares de terras públicas e 50 terras indígenas estariam ameaçadas pelo empreendimento, que abrirá as veias dessa maciça porção de floresta a grileiros”, e ressalta “o fato do projeto estar avançando sem nenhuma consulta às populações indígenas que vivem na região.”
Os pesquisadores da UFMG recomendam “que a rodovia não seja pavimentada” e colocam com alternativa a modernização do transporte fluvial, considerando que “o Rio Madeira é a principal via de transporte para o escoamento da produção agropecuária” da região e que “Manaus já se encontra bem servida por transporte fluvial”.
ClimaInfo, 16 de dezembro 2020.
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