Brasil e a neutralidade climática “para inglês ver”

16 de dezembro de 2020

Um dos argumentos usados pelo governo Bolsonaro para mostrar a “ambição” do novo compromisso climático do Brasil sob o Acordo de Paris é de que, a partir dele, estaríamos entrando no rol de países engajados em reduzir suas emissões líquidas a zero até meados deste século, entre 2050 e 2060. Posteriormente, a redação da nova Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) brasileira mostrou que a coisa não era bem assim – o compromisso é indicativo, e uma eventual antecipação dele dependeria da disponibilidade de recursos externos.

Na Época, Natalie Unterstell conta um pouco de como o governo federal vem discutindo esse assunto nos últimos anos, ainda sob a gestão de Michel Temer. À época, o então coordenador do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, o saudoso Alfredo Sirkis, entregou ao presidente um mapa do caminho para que o Brasil atingisse a neutralidade climática até 2060. Esse caminho passaria pela redução definitiva das emissões decorrentes de desmatamento, que deveriam se tornar negativas já em 2030. Bolsonaro herdou essa discussão e, até a semana passada, poucos dentro do governo e pouquíssimos fora dele tinham qualquer noção sobre o estágio da coisa.

O problema, segundo ela, não está no compromisso em si, mas na falta de ações concretas previstas para os próximos anos que viabilizem seu cumprimento no longo prazo. Sem mudanças significativas já a partir de 2021, especialmente no que diz respeito ao desmatamento, a promessa de neutralidade climática será somente isso – uma promessa.

Em tempo 1: Enquanto a Comissão Europeia e alguns países europeus estão se debruçando sobre caminhos para salvar o acordo comercial com o Mercosul, o embaixador do bloco no Brasil é seco sobre as perspectivas de curto prazo – sem mudanças na política ambiental brasileira, o acordo não terá futuro. Em entrevista à BBC Brasil, Ignacio Ybáñez afirmou que as negociações estão em “stand-by”. “No caso concreto, o que está acontecendo no Brasil, sobretudo em relação ao desmatamento na Amazônia, faz com que agora a Comissão [Europeia] considere que não existem as condições necessárias para levar adiante o processo”.

Em tempo 2: Aos trancos e barrancos, muitas das principais economias do planeta parecem ter entendido que os compromissos de ação climática precisam ser bastante reforçados já nos próximos anos para que o mundo possa ter chances de evitar o pior da crise climática. Mas, como lembrou o Estadão em editorial, o Brasil “segue alheio a esse movimento” ao apresentar uma NDC banguela que não apenas fracassa em entregar novas ações, como também diminui a ambição das já existentes. Citando Greta Thunberg, o jornal deixa claro a frágil e patética posição do Brasil nessa agenda: “Quando se trata de ação imediata, ainda estamos num estado de completa negação”.

 

ClimaInfo, 17 de dezembro 2020.

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