A relação entre o negacionismo climático e o golpismo trumpista nos EUA

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Desde a derrota para Joe Biden nas eleições presidenciais de novembro passado, Donald Trump embarcou em uma campanha agressiva e, muitas vezes, insana para subverter o resultado das urnas e garantir um novo mandato como presidente dos EUA. Para isso, ele usou e abusou daquilo que foi sua melhor arma política desde antes de seus tempos de político – a desinformação. Por dois meses, ele martelou em seus seguidores mais radicais a ideia de que a eleição foi fraudada, mesmo sem oferecer qualquer prova, e se aproximou da franja mais radical e conspiratória da direita norte-americana. O resultado foi desastroso: milhares de trumpistas atacando o Capitólio na semana passada, na vã ilusão de que eles poderiam impedir a confirmação da vitória de Biden.

Por fora, a desinformação golpista de Trump se parece muito com o negacionismo climático promovido pelo Big Oil e por lobistas dentro e fora dos governos. Por dentro, essa semelhança não é acidental. Na Heated, Emily Atkin destrinchou uma das conexões mais claras entre os dois movimentos: um dos grupos responsáveis pela invasão do Congresso foi o “Three Per Cent”, que surgiu no ano passado associado à defesa dos interesses da indústria do petróleo contra ativistas climáticos e, de maneira mais geral, movimentos antifascistas (antifa). Muitos dos seus membros são funcionários de plantas e usinas de energia em diversos estados norte-americanos. Especialistas em segurança ressaltam o risco que essas pessoas radicalizadas, presentes em áreas críticas da economia do país, podem representar. O NY Times também abordou esse recorte.

Alguns dos invasores do Capitólio são veteranos do negacionismo climático e científico. O DeSmog ouviu alguns deles dias depois do ataque, enquanto realizavam um protesto pró-Trump em Baton Rouge, na Louisiana. Junto com as faixas “contra o roubo” eleitoral, era possível ver os danos causados pelos furacões que varreram o estado no último ano. “Nesta parte do país, a ameaça dupla do aumento do nível do mar e da pandemia continua a crescer”, escreveu Julie Dermansky. Mas a prioridade de muitas dessas pessoas não está na crise climática, cada vez mais real – mas sim no golpismo trumpista, cada vez mais surreal.

 

ClimaInfo, 15 de janeiro de 2021.

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