Administração Biden será teste de fogo para Brasil de Bolsonaro

brasil biden

O “amor” acabou. Depois de dois anos de parceria diplomática com o ocupante da Casa Branca, o Brasil de Bolsonaro não encontrará mais nos EUA um aliado político. Pelo contrário: o novo presidente do país, Joe Biden, deve ser um dos principais obstáculos à política externa encabeçada pelo chanceler Ernesto Araújo.

Um dos principais nós do relacionamento bilateral é a péssima reputação adquirida por Bolsonaro mundo afora, resultado – entre outras razões – de uma política ambiental desastrosa. O grande temor de diplomatas, políticos e mesmo de representantes do próprio governo é que essa antipatia acabe contaminando as trocas comerciais do Brasil, que já estão na mira de alguns governos europeus por conta do desmatamento crescente.

No Estadão, Luciana Dyniewicz conversou com especialistas sobre o difícil panorama que o Brasil enfrentará no plano internacional. Já Mariana Grilli ressaltou no Globo Rural o impacto que a escalada das tensões entre Brasil e EUA pode causar no agronegócio nacional – não tanto por eventuais perdas de mercado nos EUA, mas principalmente pelo distanciamento de investidores e potenciais parceiros estrangeiros.

Nesse ponto, como abordado por Afonso Benites no El País, diplomatas e empresários estão preocupados com o alinhamento provável entre EUA e Europa, o que certamente intensificará a pressão internacional sobre o Brasil por conta da destruição ambiental. “A centralidade da aliança transatlântica fortalecerá as pressões de grupos ambientalistas (…) sobre parlamentares e opinião pública, consumidores e investidores, para a adoção de sanções econômicas contra o Brasil”, escreveu o embaixador Sergio Amaral no Estadão. No mesmo jornal, o também embaixador Rubens Barbosa concordou que o Brasil “poderá confrontar-se com consequências econômicas significativas” caso a devastação da Amazônia siga desenfreada.

“Os Estados Unidos viraram a página do negacionismo e do populismo. Os novos rumos da política americana são um sopro de esperança e precisam se transformar em ações o quanto antes”, disse em nota Marcio Astrini, do Observatório do Clima (OC). “Já os governos negacionistas, como o de Jair Bolsonaro, ficarão cada vez mais pressionados e devem ser responsabilizados pelo desastre que provocam à humanidade”.

De seu lado, o governo brasileiro espera que os EUA não adotem uma “atitude de confrontação” nas relações com o país. O embaixador do Brasil em Washington, Nestor Forster, destacou ao Valor que Brasília tem interesse em trabalhar com Biden em agendas de Direitos Humanos e meio ambiente. “Onde não encontrarmos convergências, saberemos manter o diálogo, concordaremos em discordar”, disse. Bolsonaro, por sua vez, divulgou uma carta a Biden nas redes sociais, reforçando esta narrativa. No texto, ele diz que, “para o êxito no combate à mudança do clima, será fundamental aprofundar o diálogo na área energética”.

 

ClimaInfo, 21 de janeiro de 2021.

Se você gostou dessa nota, clique aqui para receber em seu e-mail o boletim diário completo do ClimaInfo.

x (x)