Mourão distorce dados sobre desmatamento e diz negociar retomada do Fundo Amazônia

Mourão Davos

Principal autoridade brasileira presente na programação virtual do Fórum Econômico Mundial neste ano, o vice Mourão participou ontem (27/1) de um painel sobre financiamento e políticas para proteção da Amazônia. Para variar, ele minimizou os problemas ambientais enfrentados pela floresta nos últimos anos, com alta nas queimadas e no desmatamento, e cobrou ajuda internacional para que a Amazônia seja protegida.

Como Jamil Chade assinalou no UOL, Mourão usou um recorte dos dados sobre desmatamento do ano passado para destacar uma queda de 17% na taxa de desmate no 2º semestre – ignorando assim o salto observado nos índices agregados de 2020. Ele também disse que o governo federal segue “comprometido em trazer um futuro sustentável” para a Amazônia. O vice também disse que está “renegociando” com Noruega e Alemanha a retomada do Fundo Amazônia, congelado desde 2019 por desentendimentos criados por Ricardo Salles com os países doadores.

Falando em recursos, Mourão ressaltou a necessidade da iniciativa privada se envolver mais substancialmente com o financiamento para proteção ambiental e desenvolvimento econômico na Amazônia, especialmente agora, com os orçamentos públicos pressionados pelos gastos feitos durante a pandemia. “Apesar de o interesse internacional no status da Amazônia ter aumentado de forma importante, o mesmo não pode ser dito da cooperação financeira e técnica internacional”, disse Mourão. “Ficou abaixo [d]as necessidades atuais”. Mas a recepção dessa fala não foi a das melhores. Para o blog de Ana Carolina Amaral na Folha, o executivo Eric Pedersen, diretor de investimentos da gestora de ativos norueguesa Nordea Asset Management, rebateu as afirmações de Mourão e disse que “o setor privado sozinho não vai resolver os desafios climáticos. Os governos, no mínimo, devem fornecer uma estrutura regulatória para encorajar práticas corporativas sustentáveis”.

Agência Brasil, Carta Capital, Estadão, Folha, O Globo e Valor repercutiram as falas de Mourão no Fórum Econômico Mundial.

Em tempo: Em entrevista à Rádio Bandeirantes, Mourão insinuou que o governo Bolsonaro está preparando uma reforma ministerial, no contexto da movimentação política em favor de candidatos governistas na disputa pelo comando da Câmara e do Senado. Em particular, o vice citou a possibilidade do Itamaraty entrar na dança das cadeiras. O atual chanceler, Ernesto Araújo, é um dos ministros mais impopulares no Congresso Nacional, além de ter má fama nos círculos diplomáticos depois de dois anos de “olavismo” na política externa brasileira. O Globo também abordou essa possibilidade.

 

ClimaInfo, 28 de janeiro de 2021.

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