A fome chinesa pela carne brasileira está alimentando o desmatamento

carne exportação China

Nem mesmo a pandemia foi capaz de diminuir a demanda do mercado chinês por carne bovina brasileira. O Guardian destacou dados sobre as vendas de carne do Brasil para a China, que experimentaram um aumento de 76% em 2020 na comparação com o ano anterior. A carne brasileira foi responsável por 43% das importações de carne pelos consumidores chineses. Com o aumento das exportações, a pressão sobre áreas na Amazônia e no Cerrado (responsáveis conjuntamente por cerca de 70% da produção de carne bovina vendida para a China) também cresceu, alimentando assim um novo ciclo de desmatamento e destruição ambiental.

Considerando esse cenário e a perspectiva de que a demanda chinesa por carne brasileira seguirá crescendo, o mercado chinês se posiciona como uma força crucial nas discussões sobre preservação ambiental no Brasil e sobre riscos ambientais e climáticos associados a cadeias produtivas de commodities. Como destacou o China Dialogue, a movimentação recente de empresas, investidores e consumidores na Europa e nos EUA em prol de critérios mais exigentes para se evitar o consumo de produtos associados à destruição ambiental joga pressão sobre os chineses para que façam o mesmo. A lógica é simples: sem exigências mais rígidas de sustentabilidade das cadeias produtivas das commodities importadas, a China arrisca “contaminar” seus próprios produtos e dificultar o comércio deles com outros mercados.

Em tempo: Falando em comércio exterior, a persistência de desavenças dentro da União Europeia sobre a aprovação do acordo comercial com o Mercosul deve adiar uma eventual implementação para 2023. Segundo informou Assis Moreira no Valor, os governos da UE especulam que as conversas deverão ser destravadas apenas depois das eleições presidenciais de 2022 no Brasil e na França. Pelo lado brasileiro, a esperança é de que uma eventual derrota eleitoral de Bolsonaro tire o principal espantalho da oposição europeia à aprovação do acordo na UE. Já pelo lado francês, com a questão ambiental adquirindo peso político no debate eleitoral, Macron pretende capitalizar com uma postura mais dura contra Bolsonaro – pelo menos até abril do ano que vem, quando ocorrerá a votação no país.

 

ClimaInfo, 17 de março de 2021.

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