Ombudsman da União Europeia critica falta de análise socioambiental prévia no acordo comercial com o Mercosul

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A ombudsman da União Europeia, Emily O’Reilly, jogou mais um balde de água fria na tramitação do acordo comercial com o Mercosul no bloco europeu. Para ela, a Comissão Europeia fez “má gestão” no processo de negociação, sem conduzir um estudo de impacto ambiental, social, econômico e de Direitos Humanos antes de finalizar o acordo.

Como escreveu Assis Moreira no Valor, a decisão de O’Reilly não impede a aprovação do acordo pela UE, mas representa mais um obstáculo para sua ratificação pelos países europeus. Nas últimas semanas, sob a liderança de Portugal, a Comissão Europeia está esboçando uma declaração adicional para ser apresentada aos países do Mercosul, com novos compromissos ambientais, que tem o objetivo de destravar a oposição ao acordo dentro da UE.

Os tropeços no processo de aprovação do acordo com o Mercosul refletem uma mudança significativa no tom e na conduta dos países europeus no que diz respeito aos interesses comerciais do bloco com o Mercosul. A Reuters abordou essa transformação, contrastando o longo processo de negociação em torno do acordo comercial com o desinteresse recente de alguns dos governos europeus com sua implementação propriamente dita. A mudança de tom se deve, pelo menos em termos políticos, à insatisfação com o governo Bolsonaro, catalisada pela escalada da destruição ambiental e pelos ataques aos Direitos Humanos e indígenas. O UOL publicou uma tradução da matéria.

Do outro lado do Canal da Mancha, a insatisfação com Bolsonaro também é grande. Em entrevista a Patrícia Campos Mello, na Folha, o embaixador do Reino Unido em Brasília, Peter Wilson, ressaltou que o governo brasileiro ainda não conseguiu aplacar a desconfiança de investidores, empresários e consumidores britânicos com a situação ambiental do país, em particular a da Amazônia. “As pessoas querem entender qual é o plano para reverter a trajetória que desde 2012 vem piorando”, disse Wilson. “O Brasil precisa implementar sistemas que sejam realmente confiáveis para monitorar o desmatamento e tentar reduzir o desmatamento. Isso já foi feito antes de forma bem sucedida, pode ser feito de novo”.

Do lado dos investidores, a percepção não é muito diferente. No Estadão, Fernanda Guimarães conversou com Jan Erik Saugestad, executivo do fundo norueguês Storebrand, que encabeçou a articulação de investidores internacionais com cobranças ao governo brasileiro sobre a Amazônia no ano passado. Para ele, além da destruição ambiental, os ataques a indígenas e a defensores de Direitos Humanos e do meio ambiente geram ainda mais incerteza sobre as condições do Brasil para investimentos internacionais.

 

ClimaInfo, 22 de março de 2021.

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