O mico dos militares na Amazônia

militares na Amazônia

O balanço dos 19 meses de envolvimento das Forças Armadas no combate ao desmatamento e às queimadas na Amazônia é negativo: a mobilização de tropas não apenas dificultou o trabalho das equipes especializadas do Ibama na fiscalização da floresta, mas também abriu espaço para uma escalada histórica nos níveis de destruição.

Jake Spring fez uma análise abrangente na Reuters sobre o trabalho dos militares na Amazônia nos últimos anos e o sabor amargo que ele deixa na boca das Forças Armadas. Usado como “bucha de canhão” por Bolsonaro para praticamente tudo no governo, o Exército jamais teve condições para fazer alguma diferença na conservação da floresta, já que não possui know-how nem estrutura para fazer fiscalização ambiental. A reportagem cita uma operação realizada em julho passado contra madeireiras ilegais no Pará: os soldados responsáveis pela ação não sabiam diferenciar uma documentação verdadeira e uma falsa nem o tipo de madeira que estava sendo explorada.

Para piorar, a filosofia dos generais para a Amazônia em 2021 ainda preserva muitas semelhanças com aquela defendida pela ditadura militar há mais de 50 anos. Assim, desmatar é visto como sinônimo de ocupar, o que é central para a defesa do ativo estratégico mais importante do Brasil. Essa visão de mundo é forte dentro do governo Bolsonaro e contamina praticamente todas as políticas federais para a Amazônia – vide o desmonte da fiscalização especializada, o atropelo da legislação ambiental pela “boiada” de Salles, e a leniência com atividades e grupos responsáveis pela destruição da floresta. O G1 publicou uma tradução da matéria.

Em tempo: Segue a novela sobre o destino do ex-ministro da saúde, general Eduardo Pazuello. Segundo a CNN Brasil, o vice Mourão conversou com o colega de corporação para tratar de sua possível indicação para um ministério extraordinário da Amazônia, que estaria sendo especulado pelo Planalto como uma maneira de manter Pazuello dentro do governo e com status ministerial – e, por tabela, com foro privilegiado. “Conversei e passei a orientação: se for para trabalhar no campo de projetos de desenvolvimento, dando musculatura para a SUDAM, será uma boa ideia. Caso contrário, só irá atrapalhar”, disse Mourão.

 

ClimaInfo, 25 de março de 2021.

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