“Pagar para ver”: as conversas entre Biden e Bolsonaro sobre o desmatamento na Amazônia

conversas entre Biden e Bolsonaro

A cobrança feita por organizações da sociedade civil brasileira ao governo dos EUA repercutiu na imprensa norte-americana: a CNN destacou trechos da carta encaminhada a Joe Biden em que as entidades pedem espaço nas conversas com o governo brasileiro sobre um acordo para a proteção da Amazônia. No documento, elas alertam a Casa Branca sobre os riscos de se comprometer com a destinação de recursos ao Brasil sem que antes Bolsonaro e Salles mostrem algum resultado efetivo no combate ao desmatamento.

Na mesma linha, Thomas Traumann escreveu na Veja que o Planalto terá que se desdobrar para “cascatear” Joe Biden, um dos mais notórios “cascateiros” da política norte-americana. A proposta esboçada pelo governo brasileiro – que se resume ao “pagar para ver”, com a Casa Branca dando um cheque em branco para que o Brasil gaste como achar conveniente, sem condições – é uma cascata de proporções amazônicas que dependerá em grande parte da incapacidade de Biden e da Casa Branca de entender efetivamente a realidade política brasileira. “O maior erro que o time de Biden pode fazer em relação ao governo Bolsonaro é supor que o desmatamento na Amazônia é um acidente. Não é. É um projeto”, argumentou Traumann.

Escanteado nas conversas com os norte-americanos, o vice-presidente Mourão não escondeu o ceticismo sobre a possibilidade de Bolsonaro e Salles “cascatearem” Biden. Em conversa com Maria Cristina Fernandes no Valor, o general afirmou duvidar de que o governo brasileiro consiga arrancar dinheiro dos EUA e de outros países sem antes mostrar algum resultado em termos de redução do desmatamento. O vice especulou que os governos internacionais devem esperar a divulgação dos dados do PRODES no final do ano antes de soltar a grana para o Planalto.

Em tempo: Também no Valor, Daniel Rittner abordou se e como a política externa brasileira pode mudar com o novo chanceler, Carlos França. Depois do caos über-neurótico empreendido por Ernesto Araújo nos últimos anos, o que não falta na mesa do novo ministro são problemas políticos graves, que vão desde a desmoralização do corpo diplomático e a ingerência da família presidencial nos assuntos da pasta até a desconfiança generalizada da comunidade internacional com relação a Bolsonaro. Na seara ambiental, o chanceler França terá que se desdobrar para vender ao mundo uma nova imagem do governo brasileiro, ao mesmo tempo em que os aliados políticos do Planalto no Congresso esfregam as mãos para “passar a boiada” no legislativo.

 

ClimaInfo, 8 de abril de 2021.

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