Brasil e EUA na Amazônia: quem pisca primeiro?

EUA e Brasil

Depois de semanas de conversas, o governo dos EUA não esconde mais a frustração com a falta de avanços no diálogo com o Brasil em torno de um acordo para a proteção da Amazônia. Em reunião virtual privada com políticos e empresários brasileiros no último domingo, o embaixador dos EUA no Brasil, Todd Chapman, foi incisivo: o governo brasileiro precisa mostrar mais disposição e boa-vontade se não quiser ficar ainda mais isolado politicamente. Na Folha, Marina Dias abordou a fala do diplomata, que refutou a justificativa brasileira de que o mau-humor internacional com o país se deve a um “problema de comunicação”. “As relações entre nossos países dependerão muito dessa postura ambiental do Brasil”, disse Chapman.

Na Veja, Thomas Traumann abordou o principal impasse: Ricardo Salles, que encabeça as conversas pelo lado do Brasil, insiste com a estratégia “pague-para-ver”, que condiciona qualquer avanço no combate ao desmatamento com o repasse de US$ 1 bilhão dos norte-americanos. Para a equipe de Biden, no entanto, esse caminho é inviável. O recado é claro: “Ou o Brasil apresenta uma proposta factível no dia 22 ou os EUA seguirão seu projeto com Colômbia, Peru e outros países”, escreveu Traumann – caso contrário, “não haverá segunda chance” para o governo brasileiro. Não à toa, Brasília ficou de fora do itinerário do diplomata Juan Gonzales, diretor para o hemisfério ocidental no Conselho de Segurança Nacional dos EUA, na visita realizada à América do Sul nesta semana. Metrópoles também abordou os bastidores das conversas Brasil-EUA.

Com o impasse, os governadores brasileiros reforçaram a articulação para estabelecer um canal de diálogo com a Casa Branca. No Estadão, Mariana Hallal destacou a carta que um grupo de 21 governadores apresentará a Biden ainda nesta semana. O documento foi costurado com apoio do Centro Brasil no Clima (CBC), com um tom propositivo, sem críticas diretas ao governo federal. A ideia é que os estados passem a ser vistos pelos EUA como interlocutores confiáveis na agenda climática, de maneira a facilitar novos recursos financeiros externos para apoiar atividades de mitigação e adaptação e projetos de desenvolvimento sustentável no Brasil.

Ao mesmo tempo, Daniel Biasetto informou n’O Globo que o embaixador Chapman finalmente abriu diálogo com representantes dos Povos Indígenas. Essa era uma demanda da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), que chegou a submeter uma carta à Casa Branca na semana passada. No entanto, a primeira conversa realizada na última 2ª feira (12/4) em Brasília contou não apenas com a participação da APIB, mas também de outros grupos indígenas ligados ao agronegócio e ao garimpo, indicados pela Funai.

Em tempo: A recuperação do prestígio e da imagem do Brasil na seara ambiental internacional passa por dois pontos espinhosos para o governo Bolsonaro – o fim do desmatamento ilegal e a garantia dos direitos dos Povos Indígenas. Se não se comprometer com isso, dificilmente o país superará o mau-humor externo; pelo contrário, poderemos ficar ainda mais isolados. O alerta é da ex-ministra Izabella Teixeira e de Ana Toni (Instituto Clima e Sociedade) em artigo publicado no Valor. “No enfrentamento à crise climática, é essencial ser assertivo nos compromissos, afirmativo e transparente quanto aos objetivos e resultados pactuados e convergente nos interesses bilaterais comuns com cobenefícios globais. Só assim o mundo voltará a unir-se ao Brasil”, escreveram.

 

ClimaInfo, 14 de abril de 2021.

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