Países se reposicionam no tabuleiro político do clima no pós-Cúpula

tabuleiro político

O momento das promessas ficou para trás: o mundo agora espera por mais ações e resultados dos países no esforço contra a mudança do clima. Esse é o tom das análises feitas por especialistas e jornalistas sobre o balanço da Cúpula Climática organizada por Joe Biden na última 5a feira.

No blog Ambiência, na Folha, Ana Carolina Amaral ressaltou que o ônus da ação climática está nas costas das nações ricas e que mais emitem, as quais prometeram metas mais ambiciosas de redução de emissões de carbono e que precisam destravar pontos importantes para a viabilização dos compromissos climáticos dos países mais pobres, em particular o financiamento. Outro ponto destacado é a inserção do comércio internacional dentro do debate climático, com a União Europeia planejando impor uma “taxa do carbono” sobre produtos de países com compromissos fracos e emissões altas. No Brasil, RFI e Veja também fizeram esse corte, com um tom otimista sobre os resultados do encontro.

Míriam Leitão observou na CBN o tamanho do desafio climático global, especialmente no caso dos EUA: para reduzir as emissões do país em 50% na próxima década, Biden terá que promover uma verdadeira revolução na economia norte-americana.

Por outro lado, Mariana Schreiber elencou na BBC Brasil os tropeços e obstáculos que persistem no caminho da descarbonização para as economias mais ricas do mundo. O calcanhar de Aquiles segue sendo o setor energético, principal vilão das emissões de diversos países desenvolvidos e de nações emergentes como China e Índia. A persistência do carvão para a geração elétrica é motivo de preocupação sobre a capacidade do mundo de cortar emissões na próxima década no volume necessário para viabilizar as metas do Acordo de Paris.

O balanço da Cúpula Climática também se deu nesse tom em veículos estrangeiros como Associated Press, Bloomberg, Economist, Financial Times, Guardian, NY Times, Reuters e Washington Post. O Guardian também fez uma análise sobre a ambição das novas metas climáticas apresentadas durante o evento.

Além das promessas, a Cúpula Climática representou a primeira grande ocasião global para a diplomacia climática desde a posse de Biden. Foi uma oportunidade para que os países se reposicionassem no tabuleiro internacional em um ano-chave para as negociações climáticas da ONU. Guardian e Wall Street Journal abordaram como as dinâmicas entre EUA e países como China e Índia terão peso importante no futuro dessas conversas ao longo dos próximos meses e anos.

Já o Financial Times destacou as lacunas que persistem (e que surgem) entre o governo norte-americano e a União Europeia na agenda climática, especialmente no que diz respeito ao desenvolvimento do hidrogênio como opção de combustível e o uso da política comercial como ferramenta para pressionar os países por metas e cortes mais ambiciosos de emissões.

A RFI, por sua vez, mostrou como o governo de Alberto Fernández aproveitou o evento para colocar a Argentina como uma liderança regional climática, em detrimento do cada vez mais desmoralizado Brasil.

Em tempo: O Estadão publicou uma série de análises interessantes de especialistas da ESPM sobre a Cúpula Climática. Denilde Holzhacker, bem como a jornalista Beatriz Bulla, abordou os obstáculos e desafios internos no caminho de Biden para tirar do papel as novas metas climáticas dos EUA. Carolina Pavese explorou como a União Europeia poderá implementar sua nova (e polêmica) política climática, considerando o contexto internacional e as dinâmicas políticas dentro do bloco. Já Roberto Uebel destacou a presença da Rússia de Vladimir Putin no encontro como um sinal promissor sobre a diplomacia climática encabeçada por Joe Biden nos EUA. Os desafios energéticos enfrentados por China, Índia e Japão foram analisados por Alexandre Uehara. Finalmente, Paulo Niccoli Ramirez fez um panorama da participação da América Latina no encontro.

 

ClimaInfo, 26 de abril de 2021.

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