Cientistas dizem que o “net-zero” é uma falácia

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De pouco tempo para cá, países e corporações passaram a fazer juras de zerar seu balanço de carbono e de promover a remoção dos gases de efeito estufa que emitem. A meta que Bolsonaro anunciou da Cúpula Climática da semana passada, a de que “nossa neutralidade climática seja alcançada até 2050” é um bom exemplo. Em 2050, a soma das emissões da queima de fósseis, do arroto do rebanho e do mal tratamento de lixo terá que ter uma contrapartida, por exemplo, recuperando-se muito do que se terá desmatado até lá. Em tese, perfeito. Três dos mais conhecidos cientistas vieram a público dizer, em um artigo na The Conversation, que essas promessas de net-zero, no fundo, autorizam países e corporações a continuar emitindo gases de efeito estufa contando com que, um dia, as estratégias e tecnologias de remoção estarão maduras e aplicadas na escala necessária para conter o aquecimento global. Vale ler o artigo para entender como, com sucessivos passes de mágica, políticas e corporações foram postergando as medidas duras necessárias para conter o aquecimento. A cada novo modelo, a cada nova Conferência do Clima, com a concentração de gases de efeito estufa aumentando sem parar, ninguém abandonou a esperança nas tecnologias de remoção. Como exemplo desse pensamento mágico positivo, vale ver o comentário de Conor Sullivan no Financial Times defendendo que ainda há tempo para novos processos de sequestro e armazenamento de carbono decidirem o jogo. Só que, hoje, a ciência estima que seria necessário remover 12 bilhões de toneladas de CO2 por ano para limitar o aquecimento em 1,5oC. Isso exigiria bilhões de hectares de novas florestas ou trilhões de dólares e de megawatts para remover e enterrar essa quantidade de gás. Eles concluem dizendo que “as políticas atuais de net-zero não vão conter o aquecimento em 1,5oC, porque nunca foi sua intenção fazê-lo.” Elas foram e continuam a ser promovidas para simplesmente preservar os negócios de sempre, e não o clima. A única solução não mágica é parar para sempre de se emitir gases de efeito estufa.

 

ClimaInfo, 28 de abril de 2021.

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