Campinas de areias brancas no coração da floresta pós-queimada

savana Amazônia

Pesquisadores examinaram o coração da Floresta Amazônica para estudar o efeito de queimadas. Eles examinaram 40 anos de imagens de satélite de uma área de 4.200 km2 na planície de inundação no médio Rio Negro, bem longe, portanto do arco do desmatamento. Durante esse período houve períodos de secas fortes seguidos de incêndios. Ao longo do tempo, a floresta perdeu sua capacidade de regeneração e deu lugar a arbustos e vegetação rasteira. A camada superficial de solo perdeu a cobertura de argila e nutrientes, e, no lugar da floresta, surgiram campinas de areias brancas. O trabalho saiu na Ecosystems. Bernardo Flores, da UFRN, um dos autores, falou com a Revista da Fapesp e contou que “descobrimos que os incêndios florestais haviam matado praticamente todas as árvores, possibilitando que a camada superficial do solo, rica em argila, sofresse erosão com as inundações anuais e se tornasse progressivamente arenosa”. A vegetação é savânica, embora muito diferente dos grupos encontrados no Cerrado. Flores explica que a Amazônia tem muitas “ilhas” de savanas e as sementes dessa vegetação são espalhadas pela floresta. Ela se torna dominante quando sucessivos incêndios destroem a floresta original. Milena Holmgren, coautora do trabalho, diz que as florestas de inundação “constituem o ‘calcanhar de Aquiles’ do sistema amazônico. Temos evidências de campo de que, se o clima amazônico se tornar mais seco e os incêndios mais intensos e frequentes, as florestas inundáveis serão as primeiras a colapsar”. O trabalho também documentou que o fortíssimo El Niño de 2016 originou incêndios que, nessa região do médio rio Negro, queimaram uma área sete vezes maior do que a acumulada nos 40 anos anteriores.

 

ClimaInfo, 6 de maio de 2021.

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