Com 3°C de aquecimento, o derretimento de geleiras antárticas fica irrefreável

derretimento geleiras antárticas

Se o aquecimento global seguir a tendência atual, por volta de 2060 o derretimento das plataformas de gelo na Antártica irá acelerar bruscamente para não parar mais, pelo menos na escala de tempo da civilização humana. Os mares, portanto, também não pararão de subir.

Os resultados de dois trabalhos importantes sobre o derretimento de geleiras e o nível do mar acabam de sair na Nature.

O primeiro é um trabalho coletivo de 84 cientistas com o objetivo de harmonizar premissas e modelos para se ter um quadro coerente do derretimento das grandes geleiras da Antártica e Groenlândia. A continuar a tendência atual, com a temperatura chegando a 3oC acima dos níveis pré-industriais, o nível do mar sobe quase 30 cm até o final do século. Se o aquecimento global puder ser limitado a 1,5oC, o nível subiria menos de 15 cm. Essa diferença de 15 cm representa quase meio bilhão de pessoas obrigadas a abandonar lares e lavouras.

Esse trabalho foi comentado pelo The Guardian, New York Times e Bloomberg.

O segundo, de pesquisadores da universidade americana de Rutgers, traz resultados da modelagem da dinâmica de derretimento das plataformas de gelo na Antártica. A continuar a tendência atual e a temperatura chegar aos 3oC acima dos níveis pré-industriais, por volta de 2060, o processo de derretimento sofre uma aceleração brusca. Como essas plataformas funcionam como rolhas, controlando a velocidade de geleiras em terra, ao derreterem, desestabilizam-nas e aceleram o derretimento do conjunto todo. Conter o aquecimento a 1,5oC, para estes pesquisadores, significa evitar o pior.

Modelos são apenas modelos e o grau de incerteza é sempre elevado. Chris Mooney e Brady Dennis, no Washington Post, comentaram os dois trabalhos. Sobre o primeiro, destacaram as incertezas, mas avisando que elas não são tão grandes a ponto de permitir sermos otimistas.

Na semana passada, a Science também publicou um trabalho sobre o derretimento na Antártica. Nesse, pesquisadores olharam para as etapas finais das glaciações passadas. Ao derreter, o solo rochoso sob as geleiras fica exposto. Por ser mais escuro, absorve mais calor do que o gelo branco e isso ajuda a acelerar o derretimento da geleira toda. As simulações que fizeram indicaram que o nível pode subir 20% a mais do que as previsões anteriores. O pessoal do Gizmodo internacional comentou o trabalho, que saiu traduzido na versão nacional.

Em tempo: Uma geleira na Itália derreteu e revelou uma caverna que havia sido usada como abrigo por soldados austríacos na 1a Grande Guerra. Colchões de palha, capacetes, munição, garrafas e até jornais fazem parte de uma coleção de 300 objetos que serão exibidos em um museu próximo a partir do final do ano que vem. A curiosidade saiu no The Independent e no The Guardian.

 

ClimaInfo, 7 de maio de 2021.

Se você gostou dessa nota, clique aqui para receber em seu e-mail o boletim diário completo do ClimaInfo.

x (x)