Soja “pirata” dribla monitoramento de gigantes do agro e intensifica desmatamento no Brasil

Soja Pirata

Os produtores de soja no Brasil vivem insistindo que essa atividade não causa desmatamento. No entanto, uma pesquisa inédita mostrou que nem mesmo a Moratória da Soja está sendo capaz de conter o avanço da produção em terras desmatadas ilegalmente. A Repórter Brasil, em parceria com o Bureau of Investigative Journalism (TBIJ) e o Unearthed, descobriu que três multinacionais compraram soja de revendedoras que foram abastecidas por uma produtora rural multada em R$ 12 milhões por desmatar e incendiar uma área da floresta amazônica.

A partir de imagens de satélite, registros de fiscalização e outras evidências, a reportagem identificou que a sojeira Alexandra Aparecida Perinoto, de Marcelândia (MT), produziu soja em terras embargadas pelo IBAMA por desmatamento ilegal. Ainda assim, a soja produzida nessa propriedade foi vendida para duas intermediárias, a chinesa Fiagril e a russa Aliança Agrícola do Cerrado. A Aliança revendeu essa soja para as gigantes Cargill, Bunge e Cofco, companhias que estão na linha de tiro das cobranças internacionais por causa de ilegalidades em suas cadeias de fornecimento. A investigação revelou também indícios de fraude, com adulteração dos nomes das propriedades da família Perinoto, o que ajuda a ocultar a origem da soja e sua ligação com áreas de cultivo desmatadas e queimadas ilegalmente.

Especialistas ouvidos pela reportagem reforçaram que os casos explicitam as diversas brechas que prejudicam o sistema de monitoramento da Moratória da Soja no Brasil. Uma delas se refere ao fato de a Moratória considerar somente a propriedade rural onde o desmatamento ocorreu, ignorando áreas vizinhas; isso permite a chamada “lavagem da soja”, com a produção de terrenos irregulares sendo repassada para propriedades em situação regular, que revendem o produto sem indício de ilegalidade. Guardian, UOL e Unearthed republicaram a reportagem.

Em tempo: Um estudo internacional mostrou que a extração ilegal de madeira está por trás da perda anual de cerca de 4,5 milhões de hectares de floresta no sudeste da Ásia, na África e na América Latina. Segundo a pesquisa, conduzida pela consultoria Forest Trends, quase 70% das florestas tropicais desmatadas para pecuária e para a produção de soja (no Brasil) e óleo de palma (na Indonésia) foram desmatadas ilegalmente entre 2013 e 2019. A Reuters deu mais detalhes.

 

ClimaInfo, 20 de maio de 2021.

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