Indígenas criticam visita de Bolsonaro e cobram proteção em Terras Yanomami e Munduruku

Bolsonaro visita indígenas

Como esperado, a passagem de Bolsonaro pela Terra Indígena Yanomami, na última 5a feira (27/5), foi recheada por polêmicas. Com direito a cocar na cabeça (a despeito da superstição que não recomenda o uso desse item por políticos no Brasil), o presidente ignorou a situação dramática vivida pelos Yanomamis, alvos de ataques criminosos nas últimas semanas, e o impacto da pandemia sobre as comunidades indígenas Brasil, apenas fazendo proselitismo eleitoral descarado, e com o comandante do Exército a tiracolo.

“Bolsonaro mais uma vez ignora os problemas e humilha o povo brasileiro. O presidente não encontrou com as instituições que mais ajudaram a combater a pandemia de COVID-19 aqui na região e sequer fez menção ao combate a garimpo ilegal, narcotráfico e outros assuntos graves que assolam as Terras Indígenas aqui na região da tríplice fronteira com Venezuela e Colômbia”, comentou Marivelton Barroso, do Povo Baré, presidente da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN), em nota.

O grupo também comentou o desprezo de Bolsonaro para com os indígenas, argumentando que o presidente “sequer se deu o trabalho de conhecer nossa diversidade, criando ao seu bel-prazer uma nova etnia, a do “povo Balaio”, que não existe no Brasil e em nenhum lugar do mundo”. Os portais IG e UOL repercutiram esse texto.

Na mesma linha, o De Olho nos Ruralistas destacou o fato de Bolsonaro causar (mais uma) aglomeração em plena pandemia, sem qualquer precaução, com os Povos Indígenas sendo um dos grupos de risco mais prejudicados pela doença.

Já na TI Munduruku, que também vem registrando episódios violentos entre garimpeiros e indígenas, o governo federal segue se omitindo no enfrentamento a ilegalidades ambientais. Segundo informou Rubens Valente no UOL, o ministério da defesa cancelou, sob a justificativa de falta de verba, o apoio logístico que estava previsto à operação da Polícia Federal contra o garimpo ilegal na reserva Munduruku.

Sem esse apoio, a PF ficou exposta à ira dos garimpeiros, que bloquearam vias de acesso na cidade de Jacareacanga (PA), incendiaram casas de lideranças indígenas contrárias ao garimpo e atacaram os próprios policiais em uma base militar. O Correio Braziliense destacou uma campanha na internet em favor das famílias indígenas que perderam suas casas durante o ataque.

Falando em garimpo, O Globo destacou dados do Instituto Socioambiental (ISA) que apontam para um aumento expressivo de 363% na degradação ambiental causada pela mineração ilegal na TI Munduruku nos últimos dois anos. Esse percentual representa cerca de 2,3 mil hectares de floresta degradada.

Em tempo: O El País contou a movimentação patrocinada por grupos agropecuários para impulsionar o plantio de arroz por índios Xavantes na Terra Indígena de Sangradouro (MT). No começo do ano, eles criaram uma cooperativa agrícola dentro do território, com apoio da FUNAI e do governo do estado, para “levar desenvolvimento, segurança alimentar e qualidade de vida” às comunidades nativas, tudo financiado por produtores rurais de soja e de carne bovina do entorno da reserva. A criação da cooperativa dividiu os próprios Xavantes, sendo que uma parcela desse Povo enxerga no projeto uma tentativa do governo Bolsonaro de dividir a comunidade e privilegiar os interesses do agronegócio em detrimento dos indígenas.

 

ClimaInfo, 31 de maio de 2021.

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