A Procuradoria-Geral da República (PGR) recomendou ao Supremo Tribunal Federal (STF) a abertura de inquérito contra Ricardo Salles sob a acusação de que ele teria tentado interferir em uma investigação da Polícia Federal em favor de madeireiros suspeitos de crimes ambientais. O caso é decorrente da notícia-crime apresentada pelo delegado Alexandre Saraiva, ex-superintendente da Polícia Federal no Amazonas, que acusou Salles de atrapalhar o inquérito que resultou na maior apreensão de madeira de origem suspeita do país, no final do ano passado. Saraiva foi afastado do posto pouco após a denúncia contra Salles, no final de abril. Estadão, Folha, G1, Metrópoles e Veja destacaram o pedido da PGR.
O Ministério Público Federal sustentou que a conduta de Salles nesse episódio pode ter resultado em crimes de advocacia administrativa, obstrução de fiscalização ambiental e interferência em investigação criminal. Para tanto, a PGR pediu autorização para coletar depoimento de Salles e de proprietários rurais e agentes de fiscalização da PF e do IBAMA envolvidos na Operação Handroanthus, além de cópia digitalizada da integralidade dos procedimentos de fiscalização e investigação relativos a ilícitos ambientais. Se confirmada, será a segunda investigação contra Salles aberta no STF: há dez dias, a PF realizou a Operação Akuanduba, que investiga o envolvimento da cúpula do ministério do meio ambiente com um esquema de contrabando de madeira de origem ilegal.
Falando em Salles, o ministro tem mantido uma rotina discreta, sem aparições públicas. No Correio Braziliense, Augusto Fernandes destacou que até mesmo as redes sociais do ministro, bastante utilizadas por Salles para arregimentar a base virtual bolsonarista em seu favor, estão silenciosas. No site do ministério, a agenda oficial diária deixou de ser atualizada. Até mesmo o Palácio do Planalto tem mantido certa distância de Salles: o máximo que Bolsonaro fez depois da ação da Polícia Federal foi elogiar seu auxiliar, tido como um “excepcional ministro”. O avanço das investigações deixa Salles em um limbo político: por ora, o governo não parece interessado em demiti-lo, mas também não está animado em defendê-lo com a mesma efusividade de outros tempos.
A bancada ruralista no Congresso Nacional também está sentindo o cheiro de queimado no ministério do meio ambiente. Segundo o Estadão, parlamentares do grupo avaliam que Salles não tem mais condições de reverter o mau humor internacional e temem que a permanência dele no governo prejudique a posição do Brasil nas negociações da Conferência do Clima de Glasgow (COP26), em novembro.
Em tempo: A Polícia Federal está há pelo menos um mês sem acesso ao Sistema de Documento de Origem Florestal (SISDOF), mantido pelo IBAMA com informações sobre origem e destino final de madeiras e outros produtos florestais. A denúncia foi feita pelo delegado Alexandre Saraiva, ex-superintendente da corporação no Amazonas. Em post no Twitter, Saraiva disse que o IBAMA teria dito que os problemas de acesso seriam em virtude de “introdução de melhorias” no sistema, sem previsão para normalização do mesmo. “Nunca está tão ruim que não possa ficar pior”. O Metrópoles deu mais detalhes.
ClimaInfo, 1º de junho de 2021.
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