Crise hídrica: bacia do rio Paraná entra em emergência e governo autoriza acionamento de termelétricas

crise hídrica Bacia do Paraná

A crise hídrica que atinge boa parte dos Centro-Oeste e Sudeste do Brasil se reflete de maneira dramática nos níveis de uma das principais bacias hidrográficas do país. Na semana passada, a Agência Nacional de Águas (ANA) declarou emergência hídrica na bacia do rio Paraná. A Folha destacou a situação de alguns dos reservatórios desse sistema: em Água Vermelha, no trecho do rio Grande que acompanha a divisa entre São Paulo e Minas Gerais, o nível da barragem estava abaixo de 8% de sua capacidade total de armazenamento ao final da temporada chuvosa mais recente, entre março e abril passados. Além dos riscos para geração elétrica, o fantasma do desabastecimento de água começa a ganhar contornos nos municípios da região, que temem a falta para a produção agrícola também. E falando no agro, o Valor mostrou a preocupação da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (FAESP). Além da falta de água, os produtores temem os efeitos da energia elétrica mais cara e eventuais impactos da seca nas hidrovias do estado, o que encareceria também o escoamento da produção.

Para compensar o risco de aumento na conta de energia elétrica, membros da Comissão de Minas e Energia da Câmara dos Deputados querem aprovar um projeto que cria regras para micro e minigeradores (como painéis solares fotovoltaicos) em empresas e residências. Segundo a Folha, os deputados defendem que a medida pode desafogar a demanda do sistema elétrico e reduzir os custos da energia para os setores produtivos. A proposta vai contra o interesse de distribuidoras de energia e da própria Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), que há anos defendem revisão e redução dos subsídios aplicados à geração distribuída (GD) sob a justificativa de que o custo final desses incentivos acabam encarecendo a tarifa elétrica como um todo, penalizando aqueles que não possuem geração elétrica própria.

Enquanto isso, o governo segue se organizando para evitar uma crise de desabastecimento. O ministério de minas e energia publicou nesta 2ª feira (7/6) uma portaria autorizando, “em caráter excepcional e temporário”, condições diferenciadas para permitir o acionamento de usinas termelétricas sem contrato por um período de até seis meses, passível de prorrogação. A medida tinha sido anunciada pelo governo no final de maio, quando reconheceu a gravidade da crise hídrica. No curto prazo, o país deve importar até 2,2 mil megawatts (MW) de eletricidade da Argentina e 570 MW do Uruguai até o final desta semana para complementar a oferta de energia.

Em tempo: A matemática meteorológica por trás da seca passa pela destruição da Amazônia. Com a intensificação do desmatamento, a absorção de umidade do Atlântico pela floresta e sua capacidade de “bombeá-lo” para o interior do continente sul-americano são prejudicadas, o que resulta em menos chuvas nos Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil. Ana Lúcia Azevedo escreveu n’O Globo sobre o papel dos “rios voadores”, destacando também o peso do fenômeno La Niña para a estiagem atual.

 

ClimaInfo, 8 de junho de 2021.

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