A briga em torno da privatização da Eletrobras segue no Senado depois do texto do governo receber na Câmara uma penca de jabutis plantados aos 45 do segundo tempo pelo deputado Elmar Nascimento (DEM-BA). Apesar da oposição do próprio setor elétrico e atendendo a interesses muito particulares de pessoas e grupos, o deputado inseriu vários artigos que abrem espaço para destruir um dos alicerces do setor que é seu planejamento. As mudanças transferem ao Congresso o poder de determinar o futuro da matriz elétrica brasileira na base do “toma lá, dá cá”, por pessoas sem o menor embasamento técnico necessário, como mostrou ser o caso do deputado. Tudo isso seria passível de questionamentos não fosse a necessidade do ministro Guedes mostrar algum serviço para o pessoal da Faria Lima. Privatizar a Eletrobrás pode ser a última chance de Guedes cumprir um pouco do que prometeu a seus pares, mesmo que, ao forçar a entrada de térmicas a gás e PCHs, empurre para longe a entrada de mais fontes renováveis.
E no meio das trocas de notas e pareceres, uma do IEMA é importante porque toca em dois pontos que o ministério, congressistas e o próprio setor teimam em não incorporar: o aquecimento global e a crise hídrica. As térmicas do jabuti implicarão em um aumento de no mínimo 25% das emissões do setor elétrico, com o agravante de haver a intenção de instalá-las em locais onde a crise hídrica já acontece. Gente do setor aponta que será necessário construir milhares de quilômetros de gasodutos e milhares de quilômetros de linhas de transmissão para trazer a eletricidade para os centros de consumo. O Instituto Escolhas, além de apontar para a água, também mostra que ambas só serão viáveis com aumentos da tarifa para todos os consumidores.
Há o temor de que, como definido na MP, a empresa compradora da Eletrobrás passe a ser o principal gerador e detenha o poder de influir nas tarifas de todo o país.
O senador Marcos Rogério, governista, quer votar a MP tal como está na semana que vem. É uma corrida contra o tempo. Se houver qualquer mexida, o texto volta para a Câmara, e a MP caduca no dia 22.
O senador também aproveita a crise hídrica atual para defender usinas que entrarão em operação depois de 2028. O Ministério de Minas e Energia soltou uma nota técnica achando que respondeu às críticas. Pelo jeito, não entenderam, ou fizeram de conta que não entenderam.
ClimaInfo, 11 de junho de 2021.
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