Crise hídrica expõe as fragilidades e deficiências do sistema elétrico

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O agravamento da crise hídrica desnudou as contradições estruturais e operacionais que ainda marcam o sistema elétrico brasileiro e que, somadas, expõem o país ao risco de um racionamento de energia nos próximos meses.

No Valor, Daniel Rittner fez um balanço dessas contradições – uma delas, por exemplo, é a presença de usinas termelétricas a óleo combustível, contratadas pelo governo federal nos anos 2000 sob a expectativa de um aumento no consumo puxado pelo crescimento econômico. Essas usinas operam com um custo bem acima da média e, para evitar um custo mais alto ao consumidor, essas usinas não foram acionadas, o que, curiosamente, jogou mais pressão sobre as usinas hidrelétricas. “Portanto, por incrível que pareça, no Brasil, térmicas caras esvaziam reservatórios”, comentou Roberto D’Araujo (Instituto Ilumina).

Enquanto isso, as geradoras de energia hidrelétrica fazem as contas para não entrarem no vermelho por conta da crise hídrica. O Valor mostrou como o setor tem dialogado com o governo federal para evitar que a redução prevista na geração hidrelétrica, motivada pelo nível baixo dos reservatórios, não se reflita em novas perdas econômicas para o setor, bastante afetado pela pandemia no ano passado.

Governo e representantes do setor elétrico enxergam na crise atual uma oportunidade para aperfeiçoar os mecanismos de comunicação sobre os custos da eletricidade para a população – em particular, o sistema de bandeiras tarifárias.

Para piorar, a Petrobras pretende fazer uma parada técnica de 30 dias na produção de gás do campo de Mexilhão e no gasoduto Rota 1 entre agosto e setembro. Segundo O Globo, o governo teme que isto cause ainda mais problemas, afetando em especial a operação das usinas termelétricas, tidas como “plano B” do setor durante a estiagem.

Em tempo: A comissão de ciência e tecnologia da Câmara dos Deputados pretende acionar o ministério da economia pedindo explicações sobre a falta de orçamento do INPE, que pode causar o desligamento do supercomputador Tupã, usado para estudos e monitoramento meteorológico. O equipamento gasta cerca de R$ 5 milhões por ano em energia e a falta de verba pode forçar a direção do INPE a optar pelo seu desligamento – o que pode gerar um “apagão” de dados científicos em plena crise hídrica. O Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental (PROAM) também acionou o Ministério Público Federal e o de São Paulo solicitando com urgência a manutenção do monitoramento meteorológico e um plano de contingência para a crise. O Estadão e o G1 deram mais informações.

 

ClimaInfo, 15 de junho de 2021.

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