Gigantes da carne seguem comprando gado de “narcopecuaristas” e “neoescravagistas”

Narcopecuária

Duas reportagens investigativas publicadas ontem (14/6) mostraram que a cadeia produtiva da carne bovina segue contaminada pela ilegalidade e que os grandes frigoríficos, que em tese teriam condições para monitorar e discriminar os fornecedores irregulares, não estão fazendo os esforços necessários para separar o joio do trigo.

A Pública trouxe o caso de João Soares Rocha, investigado pela Polícia Federal do Tocantins pelo comando de uma quadrilha envolvida com o narcotráfico. Rocha, ou “Joãozinho Pé de Cobra”, também é pecuarista e alvo frequente de autuações ambientais por desmatamento ilegal.

Entre 2018 e 2020, as fazendas dele venderam cerca de 2,5 mil cabeças de gado para a JBS e a Frigol; ao mesmo tempo, suspeita-se que a organização criminosa comandada pelo “narcopecuarista” transportou 8 toneladas de cocaína entre 2017 e 2018, movimentando pelo menos US$ 3,4 milhões em dinheiro vivo. A PF acredita que a produção de gado tenha sido utilizada por Rocha para lavar parte do dinheiro proveniente do narcotráfico.

Enquanto isso, o Repórter Brasil revelou que as maiores empresas exportadoras de gado vivo do Brasil compram de fazendas envolvidas com crimes ambientais e violações aos Direitos Humanos. Muitos dos fornecedores de boi vivo das empresas Minerva, Agroexport e Mercúrio Alimentos constam na “lista suja” do trabalho escravo, além de acumularem autuações e embargos por desmatamento ilegal. Isso contraria o Termo de Ajuste de Conduta (TAC) assinado por elas em 2009 junto ao Ministério Público Federal, no qual se comprometeram a não adquirir animais de fazendas em condições socioambientais irregulares.

Em tempo: A Mercy for Animals (MFA) mostrou as condições insalubres dos bois exportados pelo Brasil para países do Oriente Médio e do Norte da África. Muitos dos navios utilizados para o transporte dos animais não estão adequadamente preparados para a atividade, o que amplia o sofrimento do gado durante a travessia do mar. “Ao longo dessa viagem sem volta, os animais passam por imenso sofrimento físico e psicológico. Nos navios, eles são confinados em espaços minúsculos e obrigados a viver entre as próprias fezes e urina por semanas”, destacou a MFA, que também lançou uma petição pública para que o Senado Federal aprove a proibição da exportação de animais vivos do Brasil. O Globo Rural deu mais detalhes.

 

ClimaInfo, 15 de junho de 2021.

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