O carvão, a “pedra” no caminho da descarbonização da China – e do resto do mundo

carvão China

A China tem sido um ator ambíguo no esforço global recente contra a crise climática. Ao mesmo tempo em que o país oferece metas de longo prazo ambiciosas para redução de suas emissões de carbono, as ações de curto prazo vão no sentido contrário, com incentivo à queima de carvão para geração de energia. Embora o país comece a cortar investimentos em projetos energéticos com esse combustível fóssil no exterior, as medidas domésticas de retomada pós-pandemia deram impulso à geração elétrica com carvão, com a flexibilização de restrições de poluição e a construção de novas usinas termelétricas. “Há muito ceticismo se a China conseguirá cumprir o que propôs [em termos de ação climática]”, comentou Daniela Chiaretti no Valor. Como o Financial Times destacou, a situação do carvão representa um “enigma mais amplo” para a China, o que coloca em risco a promessa de atingir o net-zero de suas emissões de carbono até 2060.

Ainda sobre carvão na China, o mercado do país tem servido como um cliente especial para os exportadores desse combustível fóssil nos últimos tempos. O setor carvoeiro vinha experimentando crises sucessivas na última década, que se aprofundaram com a pandemia no ano passado: a demanda por carvão nos EUA e na Europa caiu de maneira expressiva, resultado do barateamento dos custos da geração de fontes renováveis (como eólica e solar). A retomada do carvão pela China ofereceu um respiro para o setor, com o aumento dos preços internacionais do produto. Com exceção da Austrália (com quem os chineses vêm protagonizando uma séria crise diplomática), os principais exportadores de carvão (como EUA, Filipinas e Colômbia) venderam mais para o mercado chinês neste ano, segundo levantamento publicado pelo South China Morning Post.

Beneficiada pelo boom do carvão na China, a mineradora Glencore fechou neste mês a compra da mina Cerrejon, na Colômbia, por mais de meio bilhão de dólares. A operação, destacada pela Bloomberg, mostra que a indústria carvoeira se movimenta para aproveitar o máximo possível o bom momento antes que o mundo vire as costas definitivamente para o carvão.

 

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ClimaInfo, 30 de junho de 2021.

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