Mudança na comunicação das queimadas gera confusão

14 de julho de 2021

Em meio às preocupações com o aumento das queimadas no Pantanal e na Amazônia, o governo Bolsonaro anunciou mudanças na forma como os dados sobre fogo são divulgados. Formalizadas nesta 2ª feira (12/7), sem consultas prévias ou participação da sociedade, elas geraram inúmeras críticas e incertezas – a começar pelos próprios pesquisadores do INPE, ouvidos pelo  O Eco: “Desconhecemos no Programa Queimadas e no INPE quaisquer tratativas no sentido de alterar a atuação do Programa ou a divulgação dos seus inúmeros produtos, e as notícias em questão nos são totalmente estranhas”, disse Alberto Setzer, pesquisador do Instituto e ex-coordenador do Programa Queimadas.

No Estadão, André Borges ouviu especialistas: para eles, não haveria razões técnicas que justificassem a exclusão do INPE do processo de divulgação de alertas sobre incêndios. Já o IPAM alertou que a divulgação diária de dados sobre fogo, anunciada pelo governo federal como novidade, já acontece sob o INPE, que desempenha um “trabalho de excelência” reconhecido dentro e fora do Brasil.

“Os dados de riscos de queimadas do INPE já combinam dados do INMET com modelos de previsão do tempo”, observou Gilberto Câmara, ex-diretor do INPE, em sua conta no Twitter.

Em nota conjunta, INMET e INPE tentaram, sem sucesso, esclarecer e rechaçar as críticas, mas sem explicar a observação feita pelo diretor do INMET, Miguel Ivan Lacerda de Oliveira, de que “não haverá mais emissões do INPE sobre incêndio ou do CENSIPAM (Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia”.  Quem fez isso foi Ana Carolina Amaral, na Folha. Com base em documento obtido pelo jornal, ela explicou que o Sistema Nacional de Meteorologia (SNM) – composto pelo INPE, ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, o CENSIPAM (Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia, do Ministério da Defesa) e o INMET (Instituto Nacional de Meteorologia, do Ministério da Agricultura) – passará a publicar boletins semanais com previsões meteorológicas e monitoramento de queimadas, sob coordenação do INPE. Os três órgãos devem juntar as informações, mas cada um continuará produzindo os dados de forma independente.

O mal entendido, como bem observou a jornalista, foi fruto de um contexto político de desmonte ambiental que incluiu, em 2019, a demissão do diretor do INPE.

Carta Capital, Congresso em Foco, Estadão, Metrópoles e O Globo também repercutiram o quiprocó.

Em tempo: O UOL Tilt informou que o desligamento do supercomputador Tupã foi adiado para dezembro. Até a semana passada, o INPE previa fazer a desativação do equipamento já no mês que vem, por falta de recursos financeiros para manutenção. O Tupã é uma das principais ferramentas tecnológicas a serviço de pesquisadores brasileiros para acompanhar dados meteorológicos e climáticos. Sem ele, teme-se um verdadeiro “apagão científico”, o que inviabilizaria não apenas estudos climatológicos mais complexos, mas também tarefas mais simples, como a previsão meteorológica.

 

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ClimaInfo, 14 de julho de 2021.

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