Brasil de Bolsonaro na contramão da descarbonização e da transição energética

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Uma semana depois do IPCC alertar o mundo para a necessidade de acelerar a transição energética e abandonar os combustíveis fósseis, o governo Bolsonaro resolveu apostar nos erros do passado. Em roadshow pelos EUA, o ministro Bento Albuquerque, de minas e energia, conversou com representantes de empresas petroleiras com o objetivo de atraí-las para novos projetos de exploração de petróleo do pré-sal no Brasil.

O pitch do ministro resume muito bem o quão atrasado está o atual governo no debate sobre descarbonização e transição energética. Segundo ele, o Brasil pretende se tornar o 5º maior produtor de petróleo do mundo até 2030, além de se tornar o seu maior exportador. Para tanto, o país depende de investimentos de mais de US$ 450 bilhões.

Eis algumas perguntas pertinentes para o almirante-ministro das minas e energia. Primeira: considerando o fato de que o Big Oil está começando a se desfazer de seus ativos de petróleo e gás por pressão de investidores e acionistas, como o Brasil pretende levantar centenas de bilhões de dólares para impulsionar a produção de combustíveis fósseis na próxima década? Segunda: de que adianta se tornar o “maior exportador de petróleo” do mundo em 2030 se a demanda pelo produto deverá cair consideravelmente nos próximos anos, por conta dos objetivos climáticos nacionais e internacionais? Vai vender pra quem? E, terceira: onde esta ideia se encaixa nos compromissos de ação climática do Brasil?

Ao que parece, pelo menos uma empresa mordeu a isca de Albuquerque. Segundo a Reuters, a ExxonMobil enxerga no pré-sal uma alternativa para (pasmem!) reduzir sua pegada de carbono: o raciocínio é que esse tipo de petróleo seria “mais limpo” por conta de sua qualidade e da tecnologia utilizada na exploração em alto-mar. Resta saber o que os acionistas e diretores da petroleira vão achar dessa ideia.

Em tempo: A Folha destacou mais um drama do setor elétrico brasileiro. Por causa da falta de gás natural para abastecer as termelétricas, o governo federal quer queimar diesel para mantê-las funcionando e gerando energia. A mudança aumentará ainda mais o custo de geração, saltando de R$ 431 por megawatt-hora (MWh) para R$ 1.551 por MWh na usina da Termoceará, da Petrobras, a primeira a ser autorizada para fazer a mudança.

 

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ClimaInfo, 19 de agosto de 2021.

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