O que está por trás da promessa chinesa de abandono de projetos a carvão no exterior

China carvão

Um dos anúncios mais importantes realizados na Assembleia Geral da ONU nesta semana veio da China, país que confirmou a pretensão de deixar de investir em projetos de energia a carvão fora de seu território nacional. A despeito da falta de detalhes da promessa, o movimento chinês evidencia a preocupação de Pequim com o retorno de longo prazo de seus investimentos internacionais em um cenário de incerteza econômica.

No Guardian, Vincent Ni ressaltou a opinião de investidores e analistas internacionais, que enxergaram na promessa um objetivo de posicionar a China como fornecedor e financiador confiável de projetos de energia renovável nos países em desenvolvimento. Esse movimento também é interessante em termos geopolíticos, já que reforça a presença chinesa em mercados no Sul Global em um contexto de tensões com os EUA.

Em termos práticos, a promessa de Xi Jinping de deixar de financiar carvão no exterior impactará pelo menos 44 projetos em estágios iniciais de planejamento na Ásia e na África. Se essa decisão for implementada ainda nesta década, ao menos US$ 50 bilhões deixarão de ser destinados para projetos de carvão, segundo levantamento da Reuters. A não-construção dessas usinas pode representar uma redução de 200 milhões de toneladas de CO2 emitidas por ano.

Já no NY Times, Azi Paybarah analisou o anúncio chinês com mais cautela, já que a China continua sendo o principal mercado consumidor de carvão do mundo e não dá sinais de alguma redução significativa desta demanda na próxima década. No ano passado, a China construiu novos 29,8 GW termelétricos a carvão, na contramão da queda de 17,2 GW observada no resto do mundo.

“Embora a participação das energias renováveis ​​na cesta chinesa tenha crescido na última década, o carvão continua sendo, de longe, a principal fonte de energia da segunda maior economia do mundo”, escreveu Macarena Vidal Liy no El País.

Em tempo: No auge das tensões diplomáticas recentes entre EUA e China, o enviado especial do governo Biden para o clima, John Kerry, confirmou à MSNBC que pretende visitar Pequim nas próximas semanas para retomar as conversas com o governo chinês em torno das negociações para a COP26. O diálogo entre os dois maiores emissores de gases de efeito estufa do mundo é tido como central para destravar a agenda de discussões em Glasgow. Bloomberg e Reuters também repercutiram a notícia.

 

ClimaInfo, 23 de setembro de 2021.

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