O prêmio Nobel de física deste ano foi para o desenvolvimento dos modelos climáticos e complexos.
O sistema climático da Terra obedece a um conjunto pequeno de leis da física que são, cada uma, muito bem conhecidas. Mas modelar um sistema de uma quantidade quase infinita dessas interações simples é trabalho que não acaba mais. Na década de 60, Syukuro Manabe desenvolveu os fundamentos da modelagem climática, mostrando como o aumento da concentração de dióxido de carbono na atmosfera a aqueceria e, junto, a superfície e os oceanos do planeta. Ele foi o primeiro a modelar o balanço da radiação solar e o deslocamento vertical dos gases que compõem a atmosfera. Na década seguinte, Klaus Hasselmann desenvolveu os primeiros métodos conectando a climatologia com a meteorologia – o clima e o tempo, aquilo que se desenrola em anos e décadas com o que acontece em horas e dias. Manabe e Hasselmann dividiram metade do prêmio.
A outra metade foi para Giorgio Parisi, que desenvolveu métodos para modelar sistemas complexos em geral – de interações da física de partículas às que acontecem entre os maiores sistemas do universo, passando pelo clima terrestre. Na coletiva de ontem, ele se referiu a crise climática: “Acho que é urgente que tomemos decisões muito fortes e nos movamos em um passo forte, porque estamos numa situação em que podemos ter uma retroalimentação positiva e isso pode acelerar o aumento de temperatura”, disse, completando, “é claro que para as gerações futuras nós temos de agir agora de uma forma muito rápida.”
A notícia saiu em todo o mundo. Vale ver o Valor, Folha, Estadão, G1, Veja, AP, Reuters, BBC, Financial Times e o NYTimes.
O também físico, Paulo Artaxo, da USP, comentou a premiação: “É a terceira vez que as pesquisas em mudanças climáticas são agraciadas com o Nobel. Primeiro foram Paul Crutzen, Mario Molina e Sherwood Rowland que ganharam o Nobel de Química, pela descoberta do dano à camada de ozônio. Depois foi o IPCC, que ganhou o Nobel da Paz. Agora o Nobel de Física de 2021 vai para os pioneiros do desenvolvimento dos modelos climáticos e sistemas complexos dinâmicos. Mais que estratégico, importante para endossar a relevância da Ciência das mudanças climáticas em tempos negacionistas.”
Em tempo: Outro prêmio Nobel, o de economia de 2013, Lars Hansen falou com a Reuters sobre a dificuldade enfrentada pelos Bancos Centrais em incorporar a questão climática em seus mapas de risco. Hansen disse que os testes (stress tests) sendo propostos são demasiado superficiais para um problema muito complexo. Ele teme que os Bancos Centrais corram um sério risco reputacional se não acertarem a mão, como fazem regularmente em relação a seu mundo fiscal e monetário.
ClimaInfo, 6 de outubro de 2021.
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