Cortes orçamentários explicitam política anticiência do governo Bolsonaro

Marcos Pontes orçamento ciência

O ministro Marcos Pontes afirmou nesta 4ª feira (13/10) que foi “pego de surpresa” pelo corte orçamentário de R$ 565,6 milhões nas contas do ministério de ciência e tecnologia. Com a redução, a pasta perdeu mais de 86% dos recursos previstos para o orçamento de 2021, restando apenas R$ 89,8 milhões. De acordo com o ex-astronauta, Bolsonaro teria se comprometido com ele a restabelecer parte dos recursos congelados pelo ministério da economia. O Globo e Valor destacaram o falatório de Pontes.

No mínimo, é curioso ver que o ministro-astronauta ainda consegue se “surpreender” com coisas desse tipo depois de quase três anos de governo Bolsonaro. Talvez ele não tenha tido tempo para acompanhar o noticiário em Brasília nos últimos 34 meses. De toda maneira, vale a pena (ainda que com alguma dor) relembrar rapidamente o que vivemos desde janeiro de 2019: sucessivos cortes orçamentários em meio ambiente e ciência, desmonte dos órgãos ambientais, desmoralização do INPE, ataques a cientistas e universidades, promoção do negacionismo climático e pandêmico, fuga de cérebros…

“Se o governo fosse uma novela, Pontes estaria no elenco de apoio. Só é lembrado quando o capitão precisa de figurante para suas lives”, escreveu Bernardo Mello Franco, n’O Globo. “O ministro lavou as mãos quando Bolsonaro tentou maquiar os números do desmatamento e demitiu o diretor do INPE. Depois omitiu-se diante de sucessivos cortes no orçamento”.

“No ano em que a ciência nos salvou do charlatanismo, do curandeirismo e do negacionismo, ela recebe um cuspe na cara como agradecimento”, observou Leonardo Sakamoto no UOL. “Bolsonaro está nos condenando a um apagão de conhecimento nas próximas décadas, uma vez que projetos científicos não são ligados e desligados do dia para a noite. A redução no orçamento para pesquisa não apenas atrapalha processos em andamento, mas desestimula os novos cientistas a persistirem na carreira”.

Por falar em fuga de cérebros, Herton Escobar abordou na piauí o movimento cada vez maior de pesquisadores e cientistas brasileiros que deixam o país para prosseguir com suas carreiras no exterior. “Em outros tempos, não muito distantes, enviar alunos para o exterior seria motivo de comemoração. O problema é quando as pessoas vão embora sem expectativa de retorno, motivadas mais por uma desilusão com o próprio país do que pela experiência que esperam agregar às suas carreiras no exterior”.

 

ClimaInfo, 14 de outubro de 2021.

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