O mercado de carbono pode não ser tão grande assim

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O tamanho do mercado de carbono voluntário parece aumentar a cada declaração nos jornais. Para contrapor, uma análise mais apurada foi feita pelo pessoal da Trove Reseach sugerindo que, até 2030, ele deve movimentar algo em torno de 10 a 40 bilhões de dólares – algumas vezes menos do que a já modesta previsão de Mark Carney à frente da força tarefa para alavancar o mercado voluntário (TSVCM). O volume projetado mal chegaria a 1,3 bilhões de tCO2e, também abaixo dos 2 bilhões projetados pela força tarefa, assim como o preço não chegaria perto do teto de US$100 de Carney. Guy Turner, da Trove, disse que “as projeções de que o mercado voluntário de carbono poderá valer mais de 100 bilhões de dólares até ao final da década estão superestimadas”. Ele diz que no mercado, hoje, há uma sobreoferta de créditos de carbono baratos, que têm muito pouco a oferecer em termos de projetos que criam reduções reais e adicionais de emissões. A Carbon Pulse, uma das vozes mais respeitadas por quem milita no mercado de carbono, comentou o trabalho dizendo que o mercado de carbono voluntário provavelmente será muito menos significativo na redução das emissões globais do que alguns investidores e políticos esperam.

Aqui no Brasil, muito por conta da promoção do programa Floresta+ do governo, abundam otimistas. A CNN Brasil fez uma matéria com uma e o Estadão com outro. Seria de bom tom, uma pitada de sal e alguns zeros a menos nas declarações.  Vale a pena também ler o artigo de Paulo Adário no El País.

A maior preocupação com os mercados de carbono, no entanto, está longe de ser com seu tamanho e, sim, com a narrativa das petroleiras e de outros setores altamente poluentes em promovê-los para limpar suas barras, estrito senso. Jennifer Morgan, do Greenpeace, escreve no Guardian para lembrar que estudos mostram que muitos dos projetos de onde saem os créditos de carbono não reduziram as emissões. Assim, o poluidor ganhou o direito de emitir sem que houvesse a tal compensação. Não só Morgan, mas muita gente duvida que possa haver um sistema crível, seguro e transparente de aferir se as reduções são reais e adicionais. Morgan diz ainda que o pior resultado possível da COP seria um acordo em torno das negociações do Artigo 6 de Paris, que cria mecanismos para que países e entidades públicas e privadas possam reclamar e vender créditos de carbono. Ontem, Greta Thunberg postou em sua conta no Twitter que a indústria fóssil e os bancos que a sustentam estão entre os maiores vilões climáticos e estão em Glasgow para alavancar os créditos de carbono e dar passe livre para quem quer poluir.

Em tempo: A pedido do FMI, a PwC, com o apoio também do Fórum Econômico Mundial, modelou cenários de preços mínimos de carbono que valessem para o mundo inteiro. A mecânica poderia ser na forma de impostos ou de mercados. Eles assumiram um preço por tonelada de US$75 para países ricos, US$50 para os de renda média e US$25 para países pobres. O resultado do cenário mais interessante aponta para uma redução de 12% nas emissões globais até 2030 e, caso a arrecadação fosse redistribuída para a população, o PIB global cairia menos de 1%. O trabalho pode ser baixado aqui. O Guardian comentou o trabalho.

 

ClimaInfo, 4 de novembro de 2021.

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