Promessas na COP26, descalabro em casa: o balanço do Brasil nas negociações climáticas

COP26 Brasil negociações

Os primeiros dias do Brasil na COP26 foram marcados por pressões externas e recuos da parte do governo Bolsonaro. A estratégia dos representantes brasileiros em Glasgow está sintetizada em um objetivo estratégico: não intensificar o mau humor internacional com o país e, na medida do possível, recuperar alguma coisa do prestígio de outrora, que foi desperdiçado pelo atual governo.

Curiosamente, o próprio presidente Bolsonaro jogou contra esse objetivo. Como fontes ouvidas por Míriam Leitão n’O Globo sustentaram, a adesão do Brasil aos acordos para zerar o desmatamento e reduzir em 30% as emissões de metano até 2030 foi em parte precipitada pelo desempenho abismal do mandatário brasileiro na cúpula do G20 em Roma. “Foi constrangedor da perspectiva do próprio governo”, observou.

Dessa maneira, o ministro Joaquim Pereira Leite e os negociadores brasileiros em Glasgow foram forçados a engolir a seco as demandas do governo Joe Biden nos EUA para que o país aderisse aos acordos e se mostrasse mais proativo na COP. Entretanto, sem resultados práticos para mostrar agora, o governo Bolsonaro está “pedalando” eventuais objetivos climáticos para o futuro, especialmente a partir de 2030, o que alivia a pressão sobre os ocupantes atuais do Palácio do Planalto sobre a implementação dessas metas e ações. Célia Froufe e Emílio Sant’Anna abordaram essa questão no Estadão.

Mas o alívio é ilusório. Em um governo minimamente normal, as promessas brasileiras não receberiam tanto escrutínio internacional; como se trata do governo de Jair Bolsonaro, que preside um descalabro ambiental histórico, as promessas são confrontadas com mais atenção. N’O Globo, Vera Magalhães ressaltou o ceticismo internacional com a participação brasileira na COP, piorado depois dos micos de Bolsonaro na Itália. “Será que é possível acreditar em tamanha inflexão de um governo que, até aqui, apenas desdenhou a emergência climática e incentivou o desmatamento ao defender garimpos, exploração econômica da Amazônia e fim da demarcação de Terras Indígenas, além de interromper a política de fiscalização e multas a crimes ambientais?”.

“No ano de 2030 cabe tudo, pois o futuro não pode ser cobrado ou conferido. Para que o mundo confiasse em Bolsonaro, ele precisaria expiar os pecados ambientais de 2019, 2020 e 2021”, escreveu Josias de Souza no UOL. “Além de dizer coisas definitivas sobre o final da década, o governo precisaria definir melhor as coisas que serão feitas em 2022”.

 

ClimaInfo, 4 de novembro de 2021.

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