Protestos de rua querem dar mais voz aos marginalizados na COP26

COP26 protestos

A pandemia e as restrições sanitárias associadas a ela intensificaram um problema antigo das negociações climáticas da ONU: os obstáculos para a participação de representantes de comunidades e países vulneráveis e pobres nas COPs. Em Glasgow, ativistas criticam a falta de representatividade na COP26: como o Guardian destacou, a Conferência deste ano será “a mais branca e privilegiada de todos os tempos”.

A Bloomberg contou a história do ativista ugandês Mustafa Gerima, que tentou se vacinar através do programa especial do governo britânico para participar da COP26, onde ele pretendia discutir o impacto da mudança do clima na vida das comunidades rurais de seu país. No entanto, mesmo depois de meses de trabalho e planejamento, Gerima não conseguirá ir a Glasgow, sem dinheiro e sem vacina.

Nesse vácuo de participação, ativistas climáticos estão tentando compensar a falta de representatividade nos corredores da COP com pressão adicional nas ruas de Glasgow durante a Conferência. “São os protestos que me dão esperança”, comentou a ativista escocesa Cat Scothorne ao Guardian. “É uma chance de colocar em primeiro plano as vozes das pessoas na linha de frente da crise climática e resistir à influência e ao greenwashing das corporações, uma chance de dizer às pessoas o que realmente está acontecendo, especialmente no Sul Global”.

No Estadão, Emílio Sant’Anna destacou as primeiras manifestações de rua em Glasgow, contrastando a ira dos jovens de 2021 com a esperança da juventude de três décadas atrás na Rio-92. O diagnóstico é claro: perdemos tempo demais com promessas e esperanças ilusórias; agora, o jeito é cobrar os poderosos da maneira mais contundente possível. ((o)) eco também fez um balanço dos primeiros protestos na COP26.

Mas a frustração é grande. A ativista Greta Thunberg acusou a COP26 de ser a “mais excludente” de todas até agora, um reflexo das dificuldades impostas a representantes de países pobres e vulneráveis para participar do encontro de Glasgow. “Esta não é mais uma conferência do clima, mas sim um festival de greenwashing do Norte Global, uma celebração de duas semanas do business-as-usual e do blá-blá-blá”, escreveu Greta no Twitter.

Em tempo: No UOL, Pedro Telles abordou o uso crescente das Conferências por empresas, governos e personalidades para fins publicitários, o que esvazia o sentido desses encontros e cria um debate público raso, distante das questões essenciais (e, em muitos casos, existenciais) da crise climática. “Não podemos tratar uma Conferência do Clima da ONU como desfile, porque não é. Faz muito sentido participar de uma conferência como essa se você tem um plano concreto para gerar impacto, no qual a conferência desempenha um papel realmente importante”, escreveu Telles. “Mas ir a passeio não é apenas desnecessário. É contra-produtivo”.

 

ClimaInfo, 5 de novembro de 2021.

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