Sem Bolsonaro, governadores aproveitam espaço na COP26 para atrair investimentos internacionais verdes

governadores pela Amazônia

Enquanto Bolsonaro foge das cobranças internacionais na COP26, um grupo de governadores está aproveitando o encontro para ocupar o vácuo de liderança. Mais do que apenas se contrapor à incompetência federal, os governos estaduais querem facilitar a vinda de investimentos e de recursos externos com foco em desenvolvimento sustentável, proteção do meio ambiente e redução das emissões de carbono.

A articulação mais recente entre os governadores resultou na criação do Consórcio Brasil Verde, apresentado nesta semana em Glasgow. Com a adesão de 22 chefes do Executivo estadual, o grupo pretende viabilizar a captação de recursos no exterior junto a governos e empresas, sem depender necessariamente do envolvimento da União. O Consórcio é coordenado pelo governador do Espírito Santo, Renato Casagrande, e já realizou encontros com representantes dos governos dos Estados Unidos, China, França e Reino Unido, entre outros.

“O negacionismo do governo federal com relação a esse tema passou uma imagem muito ruim para o mundo. O aumento do desmatamento, das queimadas criou um machucado, uma cicatriz muito forte na imagem do Brasil”, comentou Casagrande à Globonews. “O Brasil fez o correto em assumir compromissos, mas as pessoas estão esperando efetivamente o que vai acontecer. É preciso saber quais serão as práticas daqui para frente”. O Globo, UOL e Valor também repercutiram o lançamento do consórcio de governadores.

Já no Brasil, o Senado Federal aprovou na 4ª feira (3/11) o compromisso de neutralidade climática do país até 2050. O texto ainda precisa ser votado pela Câmara antes de ser sancionado, mas o conteúdo dele é parecido com a promessa feita pelo governo federal no começo da COP. Segundo a proposta, as contribuições nacionalmente determinadas (NDCs) do Brasil serão definidas com base no inventário nacional de emissões e remoções mais recente; além disso, ela também formaliza em termos legais a obrigação de o Brasil apresentar NDCs progressivamente mais ambiciosas. Folha e g1 deram mais detalhes.

Em tempo: O chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, passou pelo Brasil nesta semana e se reuniu com representantes do governo federal. Um dos principais itens na agenda de Borrell é a questão do acordo comercial Mercosul-UE, travado por conta do desconforto de alguns governos europeus com os possíveis impactos da parceria sobre o meio ambiente na América do Sul, em particular na Amazônia. De acordo com o Estadão, a ideia da Comissão Europeia e dos representantes do Mercosul ainda é elaborar uma declaração anexa ao acordo para reforçar compromissos de proteção ambiental, mas as duas partes ainda não chegaram a um consenso sobre essa opção.

Mas os puxões de orelha no Brasil não acabaram: Jamil Chade noticiou no UOL o questionamento de representantes da UE às promessas climáticas apresentadas pelo governo Bolsonaro na COP26. “Estamos esperando mais por parte do Brasil”, disse Jacob Werksman, negociador-chefe da UE em Glasgow.

 

ClimaInfo, 5 de novembro de 2021.

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