Brasil na COP26: um país em crise (climática) existencial

16 de novembro de 2021

Pela primeira vez, o Brasil contou com dois pavilhões oficiais em uma Conferência do Clima. Não, isso não se deve à boa vontade do governo para com o tema; aliás, é o oposto disso. Por conta da falta de diálogo do governo Bolsonaro com a sociedade civil, organizações brasileiras montaram um estande alternativo em Glasgow para discutir sem maquiagem verde a realidade da crise climática no Brasil, seus desafios e os caminhos para o país se adaptar e reduzir suas emissões nas próximas décadas.

Não acidentalmente, o pavilhão “do B” brasileiro teve muito mais atenção e repercussão do que o estande montado pelo governo federal, com apoio camarada da CNA e da CNI.

Ana Carolina Amaral abordou na Folha os efeitos desta divisão, que reflete não apenas a dissonância entre sociedade civil e poder público no Brasil de Bolsonaro, mas também as desconfianças internacionais com a política antiambiental praticada pelo presidente.

Por falar em desconfiança, Jamil Chade constatou no UOL como a COP26 parece ter consolidado o “rebaixamento” do Brasil entre os principais países nas negociações climáticas. Ao invés do governo que se jactava em servir como “ponte” entre ricos e pobres, o Brasil “foi em Glasgow apenas uma sombra do que um dia representou no cenário político mundial”.

Alheios a essa realidade, os representantes de Bolsonaro em Glasgow comemoraram o fato de o país não ter saído da COP como vilão, como tinha acontecido há dois anos em Madri, quando a atuação incompetente de um ex-ministro do meio ambiente quase arruinou a Conferência.

O chefe da delegação brasileira na COP, ministro Joaquim Pereira Leite, considerou o resultado positivo, em especial na questão dos mercados de carbono. “O Brasil será um exportador de carbono para o mundo porque tem uma oportunidade única em floresta nativa, em agropecuária e energia”, disse o ministro ao jornalista Rafael Garcia, d’O Globo, sem se dar conta da colocação esquisita de sua frase. O Valor também destacou a manifestação de Joaquim Leite.

Celebração de um lado, constrangimento do outro. Na BBC Brasil, Nathalia Passarinho abordou o silêncio de Leite sobre os resultados deprimentes do desmatamento da Amazônia de outubro, quando foi registrado o pior nível da série histórica para o mês. Da mesma forma, o ministro insistiu em defender teses esquisitas para quem diz atuar em favor do meio ambiente no Brasil, como a “mineração sustentável” em Terras Indígenas.

“O que o Brasil mostra aqui realmente é descompassado com o que acontece domesticamente, em casa”, explicou Fernanda Carvalho, do WWF-Brasil, à BBC Brasil. “Para convencer, o governo precisa reverter a tendência de desmatamento, retomar o plano de combate ao desmatamento, prometer desmatamento zero, não só o fim do desmatamento ilegal, e reabilitar o Fundo Amazônia”.

 

ClimaInfo, 16 de novembro de 2021.

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