Traders globais de soja ligadas a conflitos fundiários no Cerrado

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Uma investigação conduzida pela ONG Global Witness revelou as conexões entre as principais traders de commodities agrícolas do mundo com a destruição ambiental e os conflitos fundiários no Cerrado brasileiro. De acordo com a análise, empresas como ADM, Bunge e Cargill estão comprando soja dessas áreas de risco, onde Comunidades Tradicionais estão sendo ameaçadas por produtores rurais e arriscam perder suas terras ancestrais para o agronegócio.

Parte da soja comprada dessas áreas sob júdice teria sido enviada para a Europa, inclusive sob um esquema de certificação de carbono “sustentável” dentro das regras da UE para biocombustíveis.

Estes conflitos acontecem na região de Capão de Modesto, no oeste da Bahia. Nos últimos anos, o avanço da fronteira agrícola no MATOPIBA intensificou a pressão do agronegócio sobre essa Comunidade Tradicional. Para desocupar a terra, os grandes produtores estão recorrendo inclusive à violência, com destruição de propriedades e agressões realizadas por funcionários contra os moradores da comunidade. Os produtores entraram na justiça em 2017 pedindo a desocupação da área, sob a justificativa de que a Comunidade seria “invasora”, à despeito de viver naquela terra há quase dois séculos.

O interesse dos produtores na terra de Capão de Modesto, no entanto, não seria para produção de soja, mas sim para compensação de reserva natural legal para as áreas ocupadas pela lavoura. No caso, seria uma “grilagem de terras verdes”, o que permitiria aos produtores usar mais espaço de sua propriedade para a produção rural, com o déficit de reserva natural compensado por novas áreas verdes agregadas à propriedade. A notícia é da Reuters.

Em tempo: Ainda sobre o desmatamento do Cerrado na Bahia, a Folha trouxe o caso de uma megafazenda em Formosa do Rio Preto. De propriedade da empresa Delfin Rio S/A, ela foi autorizada pelo governo baiano a suprimir 24,7 mil hectares de vegetação, área equivalente à metade do território de Salvador, para o plantio de soja, milho e algodão. Ambientalistas e grupos locais questionam a decisão, alertando para o risco de intensificação da degradação ambiental e do conflito fundiário na região. A propriedade está localizada no Condomínio Cachoeira do Estrondo, apontado pelo INCRA como a maior área grilada da Bahia e uma das maiores do Brasil.

 

ClimaInfo, 24 de novembro de 2021.

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