O risco inaceitável de um overshoot da temperatura

overshoot

A compreensão científica da gravidade da situação climática cresceu muito mais rapidamente do que as ações dos maiores emissores para controlar o aquecimento global. Modelos que integram os impactos climáticos à economia global mostram que, mesmo tomando ações drásticas a partir de agora, a temperatura média global passará dos limites de Paris e, se tudo correr bem, voltará a patamares menos impactantes. Essa passagem por temperaturas mais altas ficou conhecida como overshoot.

A Nature publicou dois trabalhos e uma apresentação mostrando o preço salgado em termos de vidas e em relação à economia global que o overshoot pode trazer. Há três grandes caminhos para se chegar a um mundo de pouquíssimas emissões no final do século. Pode-se investir muito e tomar atitudes drásticas no curto prazo e garantir um longo prazo com menos impactos. Pode-se fazer quase o oposto: ir investindo mais lentamente e chegar ao mesmo ponto final, mas com mais impactos ao longo do caminho. E ainda um terceiro caminho baseado em tecnologias de remoção em escala global, de modo a se reduzir as concentrações atmosféricas de carbono pouco agora e pouco no futuro, removendo muito ao longo do tempo. Esse último caminho leva a um aumento de temperatura para além dos limites de Paris, para posteriormente trazê-la para baixo removendo muito CO2. Vale ver o comentário no Carbon Brief, principalmente falando desta apresentação do problema.

Um dos trabalhos olha mais para a física do overshoot e mostra que ele é um feedback positivo e perverso. A cada grau e a cada mês em overshoot, maior é a quantidade de CO2 necessária para trazer a temperatura de volta a patamares mais saudáveis e, juntamente, maior é o custo disso.

O outro trabalho modela mais a economia global e diz que a primeira rota, com mais investimentos no curto prazo, mesmo que levem a um overshoot, trazem menos impactos e produzem ganhos no longo prazo.

Ambos, portanto, reforçam o apelo da ciência para ações drásticas e rápidas, como eliminar 45% das emissões globais até 2030 sob risco de ultrapassar o limite de 1,5°C.

 

ClimaInfo, 30 de novembro de 2021.

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