Petroleiras apelam ao “terror” para atrasar transição energética verde

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Medo: eis a última arma da indústria dos combustíveis fósseis para conter o ímpeto da transição verde no setor energético global. Não à toa, esse foi o tom adotado por diversos CEOs de petroleiras nesta semana durante o Congresso Mundial de Petróleo, que acontece em Houston, nos Estados Unidos.

O raciocínio desses executivos é de que a alta recente dos preços de petróleo, gás natural e carvão estaria mostrando ao mundo que as fontes renováveis ainda não oferecem um estoque confiável e acessível de energia. Somados os efeitos desse aumento dos preços da energia fóssil à inflação, uma transição energética “forçada” poderia causar não apenas uma grave crise econômica, mas também alimentar tensões e conflitos sociais.

“Eu entendo que admitir publicamente que o petróleo e o gás terão um papel essencial e significativo durante a transição e além será difícil para alguns”, observou Amin Nasser, presidente-executivo da Saudi Aramco, maior produtora mundial de petróleo, citado pelo Financial Times. “Mas admitir essa realidade será muito mais fácil do que lidar com a insegurança energética, a inflação galopante e a agitação social à medida que os preços se tornam insuportavelmente altos e os compromissos de net-zero por parte dos países começam a se desfazer”.

Outro argumento repetido por executivos do setor fóssil em Houston foi que os altos preços dos combustíveis fósseis – e a perspectiva de que eles continuem em um patamar mais alto nos próximos anos – podem prejudicar o desenvolvimento de alternativas de energia de baixo carbono ou carbono zero pela indústria. Bloomberg e Reuters também destacaram essa argumentação.

A mesma tática está sendo usada pela associação europeia de fornecedores automotivos. De acordo com uma análise da entidade, se o bloco europeu levar adiante sua promessa de proibir a venda de veículos novos com motor de combustão até 2035, cerca de meio milhão de postos de trabalho estariam sob risco de desaparecer do mercado europeu. Por outro lado, o mesmo estudo indicou que a transição verde dos carros europeus também poderia gerar 226 mil novas vagas de trabalho na fabricação de peças elétricas, o que reduziria o número líquido de empregos perdidos para 275 mil. A notícia é do Financial Times.

Em tempo: O Guardian trouxe um debate curioso: filhos de empregados da indústria fóssil conversando com seus pais sobre como o trabalho deles (e, a bem da verdade, a criação deles próprios) contribuiu para a crise climática. Os pais, Andy e Wendy, trabalharam por décadas para a ExxonMobil, quando as preocupações sobre o clima não faziam parte da rotina de trabalho nem das preocupações com o futuro. No entanto, para os filhos, Liz e James, o peso da “culpa” pela carreira dos pais começou a aparecer nos anos 2000, quando a questão climática começou a ganhar repercussão. É uma conversa interessante, mas evidentemente difícil.

 

ClimaInfo, 8 de dezembro de 2021.

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