Planos climáticos de petroleiras fecham os olhos para emissões dos consumidores de combustíveis fósseis

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O Congresso Mundial do Petróleo que está sendo realizado nesta semana em Houston (EUA) trouxe um cenário curioso: outrora 100% negacionista sobre a crise climática, a indústria fóssil se vê forçada a reconhecer (ao menos, em parte) a existência do problema e a necessidade de se reduzir as emissões de carbono (de novo, em parte, e no longuíssimo prazo). Petroleiras como ExxonMobil e ConocoPhillips, que antes viravam totalmente a cara quando o assunto é clima, aproveitaram o evento para apresentar seus planos futuros de descarbonização.

No entanto, a conversão da indústria à agenda climática ainda é bastante limitada. A Reuters destacou um ponto importante que está ausente de todos os planos climáticos apresentados até agora: enquanto as petroleiras falam em reduzir as emissões associadas às suas operações, seguem caladas quando o assunto é o carbono liberado pelo consumo de seus produtos pelos clientes. Estas emissões, chamadas no linguajar técnico de “Escopo 3”, ainda não estão na lista de preocupações da indústria fóssil, a despeito de representar uma parcela substancial da pegada de carbono do setor.

Ainda sobre o Congresso Mundial do Petróleo, a Reuters repercutiu a fala do secretário-geral da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), Mohammad Barkindo, quem criticou a “pressa” dos países em abandonar os combustíveis fósseis. Para ele, uma eventual redução dos investimentos na produção de energia fóssil na próxima década pode causar instabilidade no mercado global de energia, resultando em desequilíbrios, desabastecimento e preços mais altos.

“Se os investimentos necessários não forem atendidos, isso pode ter implicações negativas e deixar cicatrizes de longo prazo, principalmente para a segurança do abastecimento – afetando não apenas os produtores, mas também os consumidores”, disse Barkindo. A fala do líder da OPEP replica um dos argumentos mais ouvidos no encontro de Houston nesta semana: o de que a transição acelerada para a energia limpa pode ser um “Cavalo de Troia”, resultando em desabastecimento, inflação e conflitos sociais e econômicos.

 

ClimaInfo, 9 de dezembro de 2021.

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